Mucura
é um roedor
Conhecido
no sertão
Não
teme ter predador
Sabido
na obrigação
Marsupial
destemido
Gambá
por opinião
Fugindo
de muito padrão
Ele
foi inspiração
Pra
Zé, um poeta de fé
Da
terra do algodão
O
artista quebra a regra
Quando
tem inspiração.
Zé
não quis o seu nome
Ligado
a bicho bonito
Quis
fazer diferença
Pela
força do seu grito
Mostrando
que o poeta
Deixa até gambá sabido.
Depois
de seu batizado
Zé
Mucura ali nasceu
Escrevendo
muito versejo
De
nada ele se perdeu
O
poeta se criava
A
poesia agradeceu
Certo
dia entristecido
Com
a calma do sertão
Zé
Mucura começou
Uma
peregrinação
Saindo
de sua casa
Na
estrada solidão.
Entre
terras e barrancos
A
paisagem se mostrava
Zé
Mucura caminhando
A
secura acompanhava
Pois
a chuva abençoada
A
tempo não se mostrava
Cansado
da insolação
Zé
viu um pé de algaroba
Lembrou
de quando criança
Da
baje que não engorda
Pra
saciar sua fome
É
o que comia de sobra
A
tristeza de Mucura
Se
mostrou na sua face
Homem
bom e andarilho
Nem
a fome o abate
Pois
na arte encontrou
A
vida que então renasce
Caminhando
pelo sertão
Companheiro
da solidão
Zé
então ouviu a voz
Fruto
da imaginação
Era
um homem colorido
Que
lhe chamou atenção
O
homem se apresentou
E
falou no seu ouvido
“Não
tenha medo de mim”
Eu
me chamo Carrapicho
Na
jornada da ilusão
Eu
serei o seu amigo
Carrapicho
é um capim
Uma
grande erva daninha
Se
vira em qualquer lugar
E
aguenta ladainha
Como
pode ser uma praga
Também
pode ser boazinha
Mas
me diga Carrapicho
O
que vem fazer aqui
Eu
só quero descansar
As
margens do Potengi
Esse
rio azul e belo
Que
eu vejo bem ali
Não
se frustre bom poeta
Isso
é imaginação
Sinto
muito te avisar
Que
estamos no sertão
Isso
tudo é só miragem
Tudo
isso é ilusão.
Andando
pelo sertão
De
falar já ficou rouco
Era
incompreendido
Ele
foi chamado de louco
Mas
poeta que se preza
Não se abala com pouco
Então
pegaram os troços
E
continuaram a jornada
Levando
um violão velho
E
uma bolsa esfarrapada
Estava
cheia de cordel
Com
a leitura encantada
Caminhando
na estrada
A
sede bateu bem forte
Viram
então um pobre velho
Já
no seu leito de morte
Carregando
uma botija
Com
água limpa do pote
Chegaram
perto do velho
Ele
então ofereceu
Um
pouco de sua água
Logo
após adormeceu
Seu
sono foi tão profundo
Que
ele desapareceu
Zé
Mucura não entendeu
Como
o velho ali sumiu
Deixando
a botija d’água
Sem
motivo que partiu
Só
queria entender
O
que a ele se cumpriu
Carrapicho
então falou
Que
isso é coisa de bondade
Esse
velho é o mistério
Que
transborda caridade
Pode
lhe faltar o pão
Mas
não falta humildade.
Zé
Mucura então chorou
E
caiu numa aflição
Quis
saber se o pobre velho
Era
uma alucinação
Contudo
não entendeu
O
seu grande coração
Olhou
então pra carrapicho
E
pensante confessou
Que
ser pobre não impede
De
levar um cobertor
Àquele
que sente frio
Mesmo
escondendo a dor
Carrapicho
entendeu
O
que o poeta lhe disse
Percebeu
que na tristeza
Não
há ilusão que fique
A
ferida é real
Até
que remédio lhe aplique.
Continuaram
a jornada
Sem
aquilo entender
O
mistério do velho bom
Que
lhe deu o que beber
Partindo
assim sem destino
Na
estrada a percorrer
Chegam
então num povoado
Bem
pequeno e distante
Terra
assim muito modesta
De
um povo aconchegante
Zé
Mucura se anima
E
se sente ofegante
Lá
estende seu chapéu
Numa
praça da cidade
Tira
o seu violão
Poetiza
à vontade
Começa
então seu poema
Com
tanta felicidade
Minha
terra tem palmeiras
Onde
canta o sabiá
Tem
gente que chora pouco
Pois
não tem o que faltar
Mas
tem quem soluce muito
Sem
ter leite pra mamar
Na
longa estrada da vida
A
viola me companha
Meu
amigo Carrapicho
Cativa
de forma tamanha
Não
me deixa desistir
Tanto
que a fome apanha
Aos
senhores e senhoras
Peço
aqui sua atenção
Ajudem
aqui um poeta
Mesmo
sem contemplação
Pra
que nessa estrada infinita
Eu
alcance a salvação.
Logo
uma jovem moça
Caminha
até o chapéu
Atribui
uma moeda
Retirando
do seu véu
E
disse assim para o moço
Muita
“bença” lá do céu
Nessa
hora tão singela
Zé
Mucura se encantou
Sentiu
nela a pureza
Que
então se apaixonou
Não
sabia explicar
O
laço que se formou
Ele
viu então ali
A
moça sumindo embora
Não
contia a emoção
Não
sabia por outrora
Uma
dor no coração
Corroía
sangue afora.
A
moça sumiu no vento
O
poeta então se foi
Não
dormia no relento
Era
forte como um boi
Nunca
conheceu amor
Mas
lembrava de quem foi
Foi
embora na estrada
Sem
rumo a esperar
Caminhando
o poeta
Carrapicho
a acompanhar
Logo
então voltou a sede
Tem
um rio a se banhar
O
poeta contemplou
À
água doce do rio
Mostrou
a felicidade
E
sentiu um arrepio
Lá
o velho apareceu
Começou
um clima frio
Logo
o velho foi trazendo
Pegando
em sua mão
Uma
jovem moça linda
Que
laçou o coração
Do
poeta Zé Mucura
Amante
da emoção
O
velho olhou nos olhos
E
Mucura entendeu
Nasceu
na fome e pobreza
Para
o mal não se vendeu
A
dor humana na poesia
Ele
então a descreveu
A
Moça estendeu a mão
E
Mucura segurou
O
gesto dessa união
A
vida se encaminhou
De
premiar um coração
Que
a fome superou
Mucura
fechou os olhos
De
joelho se rendeu
Um
sono grande e profundo
Firme
e forte ocorreu
Debaixo
da algaroba
Mucura
desfaleceu
A
história pode até
Ofertar
uma esperança
Praquele
bom sertanejo
Que
não soube ser criança
Pois
cedo foi pro batente
Ajudar
a ter bonança
Mucura
em sua vida
Não
soube o que era amar
Pois
quem tem fome e sente
Deseja
se alimentar
Não
entende o coração
Não
sabe se apaixonar
O
poeta agora pleno
No
mundo da abstração
Percebeu
que o pobre velho
Representava
o perdão
Pras
dores que ele sentia
Com
a fome no grotão.
A
moça era a esperança
Que
ele tinha se encontrar
Era
força do poeta
Pela
vida a versejar
A
arte que ele fazia
Era
pra dor aliviar
Carrapicho
era amizade
Que
ele não conheceu
Nunca
soube o que era amor
Isso
nunca lhe ocorreu
A
falta que o mundo fez
Carrapicho
preencheu.
Hoje
dizem por aí
Que
o poeta se encarnou
Em
forma de animal
Ele
então se encantou
Um
marsupial fiel
Que
poeta versejou.
Texto: Fábio Fernandes
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