quarta-feira, 13 de novembro de 2019

SOL CABOCLO - FÁBIO FERNANDES


SOL CABOCLO

Desde que me tenho por gente
Vou buscando a minha razão
Era um caboclo inocente
Que bem prestava atenção
As coisas que se mostravam
Na vida do meu sertão.

Observando a jurema
Sentindo o cheiro da terra
Passando o fervor da urtiga
Que arde na pele e na serra
O cacto e a umburana
Algaroba de baje amarela

Caminhando pela terra
O sol castiga o lugar
Causticando corpo franzino
Que a fome insiste em tocar
Respiro o orvalho febril
Que a noite vem nos mostrar

Dia nasce e sol retoma
Outrora no grande sertão
Calejado fico tenso
Aumentando o amarelão
Rei do fogo sagrado!
Ilumina meu torrão.
A vazante da lavoura
Já não armazena água
É que a chuva viajante
Vez a gente se esbarra
Ela molha e logo some
Na penumbra se espalha

O carneiro só o osso
Apresenta seu martírio
Mato seco não encontra
Procurar é o principio
Mesmo assim sacrificado
Nele pesa seu oficio

Nosso olhar sobre essa dor
Refrigera o coração
Já cansado do labor
Que permeia esse chão
Estiou o corpo inteiro
E ventou no coração

Olho a geografia
Percebendo sua essência
Busco ser um resistente
Nessa grande penitencia
Calejando os meus dedos
Me sobrando paciência


Tarde quente sol acima
Castigando a labuta
No caminho que partilha
Todos vêm na sua culpa
Ignorando o desejo
Esse caboclo reluta

A pretensa mansidão
Já se foi sertão a dentro
Rebentando o coração
Hoje sem contentamento
Vejo fé se acabar
Só não cessa meu lamento

Em meio a essa penumbra
Meu martírio continua
Todos os meus devaneios
Não se encontram, criatura
Meu anseio é esperança
Que a dor breve recua...

E o sol?
Ah! Esse é rei
Sabe ser trono
Sabe ser forte
Sabe ser dia
Sabe ser morte.

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