quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A ROSA DO POVO E O POETA

 POR 

A construção do sujeito poético em A Rosa do Povo, de Drummond.
drummond.jpg
A Rosa do Povo foi publicada por Carlos Drummond de Andrade. Esse ano foi, para o Brasil, muito movimentado no âmbito político, pois o Presidente Getúlio Vargas assinou um decreto que declarava guerra ao Império do Japão e, um pouco antes de Vargas renunciar ao cargo, em outubro, em setembro o Partido de Representação Popular foi fundado por Plínio Salgado.
Sob a ótica da história, podemos apreender que 1945 foi um ano que trouxe à tona muitas questões que mudaram o panorama político do Brasil, pois, para além dessas informações, era o momento em que estavam reestabelecendo-se relações diplomáticas entre a União Soviética e o Brasil.
Getúlio Dornelles Vargas (1882–1954) era o presidente neste período, aliás, foi presidente do Brasil em dois períodos. A primeira parte de seu mandato teve duração de quinze anos, configurados entre 1930 e 1945. Depois foi eleito por voto direto e governou o Brasil, como presidente da república, por três anos e meio, de 1951 a 1954, cometendo suicídio nesse mesmo ano.
Durante a primeira parte de seu mandato, período conhecido como Estado Novo (1937-1945), instaurou-se uma ditadura influenciada pelo movimento nazifascista que era representado por Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália. O resultado disso foi sentido no Brasil através da Ação Integralista Brasileira, organização fascista liderada por Plínio Salgado.
É de extrema importância que se compreenda o panorama mundial de 45 para chegarmos a entender o porquê de A Rosa do Povo ser considerada, apesar de ser um livro de poesia, um dos maiores escritos de Carlos Drummond de Andrade, e que deve ser estudada não só a partir da ótica histórica, mas também da social.
Para Rabello e Rodrigues (2013 p. 129), Carlos Drummond de Andrade, em A Rosa do Povo, articula, por meio da palavra e da criação de um eu lírico habitante de um mundo em guerra, a construção de uma imagem do Brasil imbuída de teor histórico, dos anos finais da Segunda Guerra Mundial. O poeta descreve de forma melancólica a degeneração das coisas e dos homens em meio à consciência paralisante e à falta de perspectivas. Do chão forrado de cadáveres emerge uma rosa, numa representação da resistência humana.
Sabemos que Drummond era um questionador das coisas mundanas, conhecido como o poeta do “eu e o mundo”. Seu olhar e sua visão sobre as coisas eram inquietantes e ele escrevia muito sobre a sua família mineira, e sobre as relações políticas e pessoais como as que estabeleceu com Gustavo Capanema Filho (199-1985), ministro da educação e saúde pública do Brasil.
Seu pai montava à cavalo, cuidava da terra e ia para o Banco; enquanto a mãe ficava sentada cozendo. Drummond tinha um irmão, Altino, mas não podia brincar com ele. A mãe dizia para não acordá-lo, pois uma mosca havia pousado no berço do menino. Nosso autor, então, sozinho, começa a brincar e a ficar entre mangueiras, além de ler. De família vinda de fazendeiros, e sob o contexto social da época, a família de Drummond tinha influência na cidade, mas isso, para nosso autor, era de relativa importância.
A partir de frases como: "Por isso sou triste, orgulhoso, de ferro. 90% ferro nas calçadas e 80% ferro nas almas’’ ou ainda “(...) Alheamento do que na vida é porosidade e o que é comunicação”, podemos começar a entender o que Drummond tanto questionava e, principalmente, os motivos. Nosso autor, até onde sabemos, não teve amigos na infância e a família não ligava muito para ele, afinal, eram tempos nos quais a mulher ficava em casa cuidando dos filhos, e os homens saiam para trabalhar.
A família de Drummond tinha uma fazenda em Itabira do Mato Dentro (MG), o que era motivo para que pessoas observassem-nos com certo destaque. Durante sua passagem pela Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte, conhece, no Grande Hotel de Belo Horizonte, aqueles que, alguns anos depois, viriam a ser seus colegas na área da Literatura Brasileira: Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.
Drummond estabeleceu poucas relações afetivas e profissionais, porém, formou uma família com Dolores Dutra de Morais, com quem teve dois filhos, Carlos Flávio, que morreu meia hora depois de vir ao mundo, e Maria Julieta, que morreu em 5 de Agosto de 1987, vítima de câncer. Drummond, muito fragilizado com a morte de sua filha, falece em 17 de Agosto do mesmo ano. Estes dados foram pontuais para compreendermos o poeta e o homem.
O poeta também se aproximou de Luís Carlos Prestes (1898-1990), militar e político brasileiro. Drummond tinha um apreço muito forte com o comunismo, sendo A Rosa do Povo considerada uma de suas obras mais politicamente engajada. Nessa obra, assim como em tantas outras, Drummond não se prende somente aos questionamentos sobre seu mundo particular e não se limita também ao Brasil e à sua cidade natal. Para além disso, Drummond sempre questionou os fatos mundiais, políticos e principalmente sociais, como faz seu poema “Operário do Mar”, publicado na obra anterior à Rosa do Povo, Sentimento do Mundo, publicação de 1940.
Referência: RABELLO, Ivana Ferrante. & RODRIGUES, Valéria Daiane Soares. E uma rosa se abre: a guerra e a flor na poesia de Drummond.