Tarsila do Amaral é uma dessas personagens marcantes da história da arte do Brasil. Nasceu em 1886 e, morreu em 1973, em São Paulo. Artista de primeira linha foi uma mulher que participou dos movimentos no país em prol de uma arte reveladoramente brasileira. Estudou na Europa mas não quis seguir os cânones europeus, conheceu a ex-URSS e fez pesquisa junto com Oswald de Andrade na Amazônia. Passou por fases impressionistas e cubistas. A Semana de Arte Moderna de 1922 é um marco da cultura nacional. Artistas se reuniram para modernizar a Arte brasileira. Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Manuel Bandeira, Raul Bopp entre outros artistas proclamavam que a expressão artística do país deveria refletir as lendas, os índios, as festas populares, o delírio, a natureza, o sonho, o mundo fantástico da imaginação. Eles proclamavam um corte na visão eurocêntrica da cultura. Tarsila do Amaral não participou diretamente da Semana de Arte de 1922 por estar viajando mas contribuiu definitivamente para a arte brasileira. Passou por diferentes fases: Pau-brasil, Antropofagia e Fase Social. Na fase Antropofágica Tarsila do Amaral se destaca ao pintar o quadro Abaporu,(1928) para dar de presente ao marido Oswald de Andrade. A pintura tem como título, em tupi-guarani, Aba= aquele que come Poru= carne crua. Ou seja, Abaporu poderia ter sido um índio, aquele que come carne crua. E o lema do grupo modernista era deglutir a cultura européia fazendo uma analogia com a antropologia que estudava os antropófagos, o canibalismo na América do Sul. Por que será que o Abaporu tem esse carisma todo com as crianças e os adultos? Uma das muitas explicações possíveis pode ser a de que o Abaporu traz um sentimento mítico em sua forma, cor e estrutura. Não podemos dizer que é uma imagem complexa. A obra representativa da arte moderna brasileira tem nos arte-educadores do Brasil e do exterior uma empatia contagiante. Fora a Monalisa de Leonardo Da Vinci e O Grito de Edvard Munch o Abaporu é a obra de arte mais reproduzida nas escolas. Ao trazer aos alunos a releitura desta obra que mede 85 X 73 cm e, que hoje, está resguardada no Museu de Arte Latino-americana em Buenos Aires,-MALBA- trazemos para o imaginário infanto-juvenil uma referência do homem brasileiro, um homem de paz que está entrosado com a natureza e a natureza mora nele. Na obra original a cor azul dá ênfase a traquilidade que o personagem sentado e nu nos remete. O verde do cacto reforça a verticalidade do personagem que parece que foi pintado num ângulo debaixo para cima e, o sol sugere, a circularidade da vida. Para compreender o Abaporu é preciso se identificar com a obra porque nesta tela há um simples ser sentado embaixo do sol, talvez numa tarde de verão e a única companhia que esse ser mítico tem são os seus pensamentos, o sol e um cacto, uma planta do sertão nordestino.
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