quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Documentário potiguar As Dançadeiras de São Gonçalo amplia circuito em festivais e chega ao streaming

O documentário As Dançadeiras de São Gonçalo, dirigido por Jorge Andrade, segue ampliando sua presença nos festivais brasileiros e integra a Mostra Potiguar da 12ª Mostra de Cinema de Gostoso, um dos encontros mais potentes do audiovisual do Brasil, realizado de 20 a 24 de novembro de 2025. 


Além disso, o filme foi selecionado pela Mostra de Gostoso para integrar o programa Filmes Potiguares, exibido na plataforma Itaú Cultural Play, onde ficará disponível gratuitamente entre 24 de novembro e 9 de dezembro.

Com 16 minutos de duração, o documentário registra a tradição da Dança de São Gonçalo, mantida há gerações pelas mulheres da comunidade quilombola Pêga, em Portalegre (RN). No estado, apenas os quilombos Pêga e Arrojado, ambos de Portalegre, preservam essa manifestação, o que torna o registro ainda mais necessário.


A obra se distingue por sua construção estética: em vez de recorrer a narrativas que enquadram territórios quilombolas sob o signo da falta, da dor ou da ausência, o filme propõe uma escuta sensível, construída a partir do afeto, do pertencimento e da escolha política de celebrar a vida, a fé e a continuidade das tradições.

“A dança é um pedaço vivo da história delas. Registrar isso é preservar a memória de uma tradição que existe há gerações e que só continua graças à força dessas mulheres. Buscamos compreender o que motiva cada uma delas a continuar dançando. Mais do que registrar a tradição, queríamos revelar tudo o que carrega sentido e que resiste, mesmo quando não é dito. É uma grande felicidade ver essa história chegando a mais pessoas”, diz o diretor Jorge Andrade.

Lançamento com escuta e cuidado

Antes de iniciar sua circulação em festivais e mostras de cinema, o filme cumpriu um ritual essencial: foi devolvido a quem lhe deu origem.

As primeiras exibições ocorreram dentro das comunidades quilombolas de Portalegre, ainda em 2024. Longe de ser apenas simbólica, essa decisão reflete o compromisso do projeto com a escuta e o pertencimento: apresentar primeiro às mulheres e aos territórios retratados é reconhecer que a história lhes pertence.

Agora, As Dançadeiras de São Gonçalo inicia uma etapa de divulgação mais ampla, com exibições públicas e participação em eventos culturais, reafirmando a importância de colocar em evidência vozes que historicamente foram silenciadas, desta vez, em seus próprios termos.


A força do território contada por suas protagonistas

As Dançadeiras de São Gonçalo se alinha a uma nova estética de narrativas negras e quilombolas: aquelas que nascem de dentro dos territórios, não como representação externa, mas como gesto de autodefinição.


O filme acompanha as mulheres do quilombo Pêga a partir de seus próprios tempos, escolhas e formas de narrar, valorizando o que elas afirmam sobre si, e não aquilo que o olhar de fora costuma supor.

A professora quilombola Ielândia Jacinto, uma das participantes do filme, descreve a potência dessa construção:

“É tão grandioso ver um trabalho sem o manto de induzir o retrospecto da dor alheia. É tão lindo ver a história contada a partir de si, do lugar de fala, e falas de alegria, por saber contar quem é. É um trabalho construído e apresentado com muita ética, respeitando a história de nossas vidas, evidenciando a nossa força e coragem.”

Da serra para o circuito nacional

Além da Mostra de Gostoso, que inaugura em 2025 sua categoria dedicada exclusivamente ao cinema potiguar, o documentário também foi selecionado para o FINC – Festival Internacional de Cinema de Baía Formosa, realizado nos dias 28 e 29 de novembro, e integrou a programação do Festival Goiamum e do Festival Urbano Cine.

No cenário nacional, a obra circula por outros eventos, como a 7ª Mostra Cinema dos Quilombos, em Belo Horizonte, que acontece em dezembro.

Ampliando ainda mais o acesso ao público, o documentário também foi selecionado pela Mostra de Gostoso para integrar o programa Filmes Potiguares na plataforma Itaú Cultural Play, onde ficará disponível gratuitamente entre 24 de novembro e 9 de dezembro.

Sobre o projeto

O documentário integra o projeto Gente que Faz História, dedicado ao registro das memórias e saberes das comunidades quilombolas de Portalegre (RN).

O projeto valoriza narrativas internas, muitas vezes ausentes das representações oficiais.

A obra conta com apoio do Sebrae-RN (Edital de Economia Criativa) e da Prefeitura de Portalegre, via Lei Paulo Gustavo.


DISPONIVEL EM:

https://blogdouly.com.br/documentario-potiguar-amplia-circuito-em-festivais-e-chega-ao-streaming/

Vinícius, Poeta do Encontro (por Otto Lara Resende)


“Homem de bem com a vida, a favor da vida. A quem a vida nada se nega. Criador de um lirismo em prosa e verso, falado e cantado, e sempre de exaltação a vida. A canção em Vinícius nasce de um encontro, não vem de um conflito. Encontro consigo mesmo, com o outro, com sua cidade. Com o menino livre e feliz que foi, com o tempo da infância, fonte inesgotável quando tudo era indizivelmente bom. Menino de beira de mar, os carinhos de vento no rosto e as frescas mãos de maré nos seus dedos de água. Encontro com o próximo, com aquele que se dá à vida. O que não se defende, o que não se fecha, o que não se recusa participar do espetáculo fascinante da grande e da pequena ventura de viver. Encontro com os amigos, parceiros da vida em comum, amigos da arte em comum. Encontro com a mulher amada, amiga infinitamente amiga. Encontro com a mulher do povo entre moringas e cenouras emolduradas de vassouras. Com o operário em construção, dono de uma nova dimensão, a dimensão da poesia. Encontro de sensibilidade pessoal com o sentimento popular da inspiração e da técnica pessoal com o ritmo e inspiração geral. Encontro da mulher com o homem, do amor. Das palavras com a música, da poesia com a canção. Poesia de aliança com a vida e canção de aliança com a multidão. Voz pessoal, mas compreendendo muitas vozes. Encontro com uma voz com todas as vozes.

Poeta do encontro, cantor de vida. Vinicius tomou partido do sentimento contra o ressentimento.

Por isso, ele não semeia pedras como aquele que não ama.

Semeia canções, poesia.

Vinicius canta o povo.

O povo canta Vinicius.

A bênção, Vinicius de Moraes.”

(Texto de Otto Lara Resende, escrito para o lançamento do primeiro LP ao vivo de Vinícius de Moraes gravado no “Teatro Municipal de São Paulo” em dezembro de 1965. O disco se chamou “Vinícius: Poesia e Canção” e alternava a execução de seus sambas e a recitação de poemas. Quem abre esta faixa é o inconfundível Paulo Autran.)

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

FRAGONARD: A GENIALIDADE DO ARTISTA ROCOCÓ

FRAGONARD, Jean-Honoré. L’Escarpolette

Ao contemplarmos a tela "O Balanço (1766), de Jean-Honoré Fragonard" notamos que essa obra artistica é uma pintura Rococó de grande delicadeza e humor. A tela por sua vez, incorpora o ideário da frivolidade das cortes e dos universos ocultos por entre as florestas e jardins privados de palácios, onde o flerte podia ocorrer por entre as árvores. À primeira vista, a obra não parece revelar o grande tema de parte das obras de Fragonard, o galante e o libertino. Porém, notamos que na pintura rococó, a força imagética de surpreender e ancantar os espectador não está muito distante de sua proposta inicial. 

O Rococó, também conhecido como Barroco Tardio, se configura como um estilo excepcionalmente ornamental e dramático de arquitetura, arte e decoração que combina assimetria, curvas onduladas, dourado, cores brancas e pastéis, molduras esculpidas e afrescos no intuito de criar ilusão de movimento, drama e surpresa. Foi sobretudo um estilo francês do século XVIII, atendia o publico aristocratico e se espalhou por outras regiões do velho continente, chegando até a america.

L'aurore

Nesse contexto, um nome de destaque no rococoó foi Jean-Honoré Fragonard, talentosissimo pintor francês, cujo o estilo estetico foi distinguido por sua notável facilidade, exuberância e tambem hedonismo. Ele produziu mais de 10.000 pinturas do estilo. Entre suas obras mais populares podemos destacar  as pinturas de gênero, que transmitem uma atmosfera mais íntima, caracteriza-se por ser um estilo sóbrio, realista, comprometido com a descrição de cenas rotineiras, temas da vida diária como homens dedicados ao seu ofício, mulheres cuidando dos afazeres domésticos, ou até mesmo paisagens.  



Jovem Lendo" 
(1776)

A obra em destaque mostra uma jovem dama francesa embrenhada na solitária leitura de um livro de bolso, provavelmente um romance, a tela. Fragonard em A Leitora reflete inúmeras imagens de leitura que povoam a obra de pintores europeus a partir do século XVIII, quando a "febre de ler" está instaurada na Europa. 

No quadro em destaque, a menina se apresenta com uma cor exuberante contrastando com a penumbra do fundo. As cores são ricamente misturadas, na medida em que os contornos do corpo se mesclam com este fundo. Suas costas são suportadas por uma espécie de abundância maternal de um travesseiro de cor rosácea.

Ela está abrosvida por seu livro, tão desprotegida como uma ninfa de Boucher. Um manto vertical pende na parede amarelo-amarronada e contrasta com o reluzente braço da cadeira.


Ao observar a obra "A Leitura", notamos a habilidade de transcender a ornamentação que distingue Fragonard. Desse modo, notamos que Fragonard é mais profundo do que parece e sua sensibilidade genuína se revela na forma que descreve a cena.


Retrato

A genialidade de Fragonard foi grandemente ignorada, assim comco grandes genios da pintura em vida. Isso fez com que que Lübke: um dos renomados escritores pioneiros da história da arte na Alemanha, viesse a omitir a menção de seu nome no livro "A HIstoria da ARTE". No entanto, a influência de Fragonard na manipulação de cor local e expressiva não pode ser subestimada.

Le verrou, 1780

Fragonar na última fase de sua vida pintou cenas de amor e da natureza com maestria e grandeza, morreu em Paris, pobre e quase esquecido.

La visite à la nourrice

A Lei do Streaming e os riscos ao cinema independente

Aprovado na Câmara, projeto obriga, enfim, plataformas a contribuir com o audiovisual. Mas desvirtua o modelo que promoveu inovações e pluralidade no cinema brasileiro. Corporações nacionais podem escolher onde aplicar boa parte dos recursos – inclusive, nelas próprias

No momento em que o Congresso Nacional aprovará um Projeto de Lei (PL 8.889/2017) que pode ter a força de modificar a indústria audiovisual nacional, cabe refletir o que nos trouxe até aqui e o que estamos votando.

O audiovisual é uma indústria de números impressionantes. De acordo com o Anuário Estatístico do Audiovisual Brasileiro 2024, foram R$ 32,7 bilhões em valor adicionado à economia brasileira. Qualquer projeto de lei que pretenda modificar ou criar mecanismos de intervenção nesse mercado possui uma responsabilidade enorme.

O Brasil tem um sistema de investimento público no audiovisual sólido e estruturado, apesar de operacionalmente muito falho, com uma legislação robusta e complexa, fruto de décadas de discussão e aprimoramento da política pública. Seu mecanismo mais moderno e abrangente é o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).


Este é o principal mecanismo público de fomento ao cinema e ao audiovisual no Brasil, destinado a financiar a produção, distribuição e exibição de obras nacionais. É alimentado pela Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional), que recolhe recursos da própria cadeia audiovisual para reinvesti-los no desenvolvimento do setor. A Condecine, que financia o FSA, é uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incidente sobre atividades ligadas à exploração comercial de obras audiovisuais no Brasil.

A modernidade tributária do FSA consiste em não criar uma carga tributária externa ao setor, recolhendo apenas uma fração da receita das próprias atividades econômicas do audiovisual (TV, telecomunicações, publicidade, streaming etc.) e realocando esses recursos dentro do próprio setor. Parte da receita gerada pelo setor, portanto, retorna ao próprio setor, fortalecendo a produção independente e a diversidade de conteúdos. Sem cadeia operante, não há CIDE; e sem CIDE, não há fomento.

Essa relação de interdependência circular entre o mercado e a política pública é justamente o que torna o modelo brasileiro único: ele não cria impostos novos, mas realimenta o ecossistema com parte da riqueza que ele mesmo gera. Os recursos captados pela Condecine são aplicados em editais públicos, linhas de crédito e investimentos diretos, com o objetivo de equilibrar o mercado, fortalecer produtoras independentes e estimular a produção nacional. Desde o início do recolhimento, uma generosa parcela é contingenciada pela Fazenda e vai para os cofres públicos.

Atualmente, existem três modalidades principais: Condecine Título, Condecine Remessa e Condecine Teles — esta última sendo a principal fonte de recursos do FSA. Até agora, o único segmento não regulado era o vídeo sob demanda (VoD). Portanto, é natural e necessário que essa contribuição exista — por razões de equilíbrio de forças, interesse público, política cultural e industrial, soberania, mercado e isonomia entre os players.

O PL 8.889/2017 propõe a criação da Condecine-Streaming, justamente para integrar o segmento de streaming ao ecossistema regulatório. É neste final de terceiro ano do presidente Lula que, finalmente, um projeto de lei dessa importância é colocado em votação. O substitutivo atual altera de forma sensível o equilíbrio do modelo, permitindo abatimentos e investimentos diretos pelas plataformas, reduzindo os repasses ao FSA e transferindo poder de decisão sobre recursos públicos para agentes privados.

Neste texto, procuro destacar alguns dos aspectos dessa discussão que considero relevantes, considerando o contexto e o momento político de sua votação.

O PL define uma alíquota muito baixa — 4% contra os 12% recomendados pelo Conselho Superior de Cinema e os 6% negociados pelo Ministério da Cultura — e permite que grande parte da aplicação dos recursos da contribuição seja gerenciada pelos próprios regulados. Também concentra recursos nas produtoras já integradas comercialmente às plataformas e abre um precedente histórico e perigosíssimo de desvio da função pública do fomento, permitindo que empresas não independentes (com vínculo com canais, operadoras ou plataformas que exibem seus próprios conteúdos) acessem recursos oriundos de contribuição pública para produção própria.


Trata-se, em termos técnicos e simbólicos, de uma inflexão no modelo de política audiovisual brasileira, onde o dinheiro público passa a servir para reforçar o poder dos grandes players, em vez de promover diversidade, regionalização e independência criativa.

Estrutura resumida do modelo

A grosso modo, deixando de lado aspectos de descontos e tabelas mais detalhadas, o substitutivo propõe que as plataformas de vídeo sob demanda (VoD) recolham míseros 4% de sua receita bruta no Brasil, com a seguinte repartição:

  • 60% podem ser deduzidos da contribuição quando da contratação de direitos de exploração comercial, de licenciamento ou de pré-licenciamento de conteúdos brasileiros independentes;
  • 40% desses 60% podem ser aplicados em produção própria, na hipótese de o contribuinte qualificar-se como produtora brasileira registrada na Ancine;
  • De 1% a 3% podem ser deduzidos para formação e capacitação.
  • A porcentagem restante vai para o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), destinado a editais públicos e linhas de fomento.

É relevante dizer que logo de partida há um erro conceitual relevante na definição de valor bruto: o percentual de 4% é apresentado como incidente sobre a “receita bruta”, mas exclui da base de cálculo os tributos indiretos (PIS, Cofins, ISS e ICMS) que incidem sobre ela. Essa exclusão reduz a base efetiva de recolhimento, podendo diminuir em até 19% o valor total da contribuição.

Um dos aspectos que mais me chama a atenção, do ponto de vista de questionar a utilidade pública do PL, é que o controle da destinação dos 60% dos recursos — ou seja, a decisão sobre onde, como e em quais obras investir — fica inteiramente nas mãos das próprias empresas que deveriam ser reguladas pelo poder público.

Isso inverte o princípio de governança do fomento audiovisual, transferindo a função regulatória e de planejamento cultural do Estado para as plataformas privadas, que passam a definir a aplicação do recurso de natureza pública segundo seus interesses comerciais.

O Projeto de Lei deveria criar, em tese, um equilíbrio entre iniciativa privada e política pública. Mas, na prática, o modelo institucionaliza a intermediação privada de recursos públicos, deslocando o eixo do fomento estatal para o investimento condicionado por plataformas e conglomerados.

O verdadeiro efeito do abatimento de 60%

Os 60% de abatimento favorecem quem já está dentro da engrenagem comercial das plataformas — as grandes produtoras independentes, que já mantêm contratos recorrentes com plataformas de streaming nacionais e internacionais.

Essas empresas passam a captar diretamente o dinheiro que seria tributo, convertendo obrigação fiscal em investimento dirigido. Ou seja, a lei garante financiamento público para contratos privados entre grandes conglomerados globais e grandes produtoras nacionais.

Veja, é natural que o contato comercial estabelecido na prestação de serviços para originals seja o caminho utilizado pelas plataformas para escolher de quem licenciar e pré-licenciar novas obras. Isso é prática comum em todas as relações comerciais. É natural, se dada a opção para qualquer um de nós, que prefiramos trabalhar com aqueles que já conhecemos e com quem tivemos boas relações profissionais.

É fato que o dinheiro que vai entrar no mercado diretamente através desses 60% é significativo e vai aquecer o próprio mercado e a indústria. Isso é positivo para a economia do setor e para técnicos, artistas e fornecedores contratados, pois haverá aumento de demanda de trabalho e fluxo financeiro na cadeia produtiva.

No entanto, o problema central não é só desconsiderar as práticas de mercado que deixarão de fora as produtoras que não mantêm relação com as plataformas. O problema é que, ao permitir 60% de desconto na obrigação de recolhimento, destina-se muito pouco recurso ao FSA, que é justamente o mecanismo que poderia beneficiar essas produtoras — médias, regionais ou emergentes — por meio de editais públicos e políticas de redistribuição.

É, portanto, uma falácia dizer que o setor de produtoras independentes na totalidade se beneficia desse modelo de abatimento. O que de fato ocorre é que um seleto, experiente e muito competente grupo de produtoras independentes — aquelas já inseridas na cadeia comercial das plataformas — sai beneficiado, enquanto a maioria do setor permanece à margem do acesso a recursos públicos.

Além do mais, é justamente quando o produtor tem liberdade editorial e autonomia criativa — livre de demandas de encomendas e padrões de conteúdo impostos por plataformas e seus algoritmos pasteurizantes — que surgem novas propriedades intelectuais e novos talentos, a base de uma indústria perene e soberana, capaz de gerar valor autoral, artístico e econômico de longo prazo. É daí que vieram filmes como “Cidade de Deus”, “Que Horas Ela Volta”, “2 Filhos de Francisco”, “O Cheiro do Ralo”, entre tantos outros filmes brasileiros independentes.

O novo precedente: inclusão de empresas brasileiras de comunicação

O ponto mais sensível do texto — e que altera a lógica histórica do fomento audiovisual brasileiro — é a autorização para que até 40% dos 60% de abatimento possam ser aplicados em conteúdos próprios, produzidos pelo contribuinte que se qualificar como produtora brasileira registrada na Ancine.

Na prática, isso significa que grupos como Globo, SBT, Record, Band, RedeTV e outros conglomerados nacionais, desde que formalmente registrados na Ancine como produtoras brasileiras, poderiam utilizar parte do tributo abatido para investir em suas próprias obras.

Isso representa um precedente inédito na história da política de fomento: é a primeira vez, desde a criação da Ancine (2001) e do FSA (2006), que se admite o uso de recursos de natureza pública em empresas não independentes. Esse precedente é imoral.

O efeito prático é o mesmo: transferência de recursos públicos para conglomerados integrados verticalmente, com produção, distribuição e exibição dentro do mesmo grupo econômico. Essa brecha rompe o princípio fundacional do fomento audiovisual brasileiro de promover diversidade e corrigir assimetrias estruturais, convertendo política pública em instrumento de reforço do poder privado.

Consequência política e estrutural

O que está em jogo aqui é a natureza da Condecine: ela não existe apenas para arrecadar, mas para corrigir desequilíbrios e promover equilíbrio de forças dentro de um determinado setor econômico. A destinação dos recursos é tão ou mais importante do que o valor arrecadado.

Ao permitir o investimento próprio e reduzir a transferência para o FSA, o texto cria brechas enormes para judicializações futuras, justamente porque rompe o princípio da isonomia entre contribuintes e distorce o propósito original da CIDE. Estamos, na prática, financiando o catálogo das plataformas com dinheiro público, ao autorizar que invistam parte da contribuição em obras de sua própria escolha ou produção.

Enquanto isso, os CABEQs — Canais Brasileiros de Espaço Qualificado — não podem usar esse tipo de recurso: eles precisam investir dinheiro próprio para adquirir licenciamentos e alimentar seus catálogos. Ou seja, a política proposta favorece quem já tem poder de investimento, em detrimento de quem efetivamente promove diversidade de conteúdo nacional.

Além disso, nenhum outro contribuinte da Condecine — seja Condecine Teles, Condecine Título ou Condecine Remessa — tem a prerrogativa de produzir conteúdo próprio com o dinheiro da contribuição. Podem, sim, escolher aplicar recursos em Obras Independentes de Produtoras Brasileiras independentes em troca de porcentagem patrimonial. A exceção criada para o Condecine-Streaming rompe a isonomia tributária e regulatória do setor, abrindo uma brecha grave que enfraquece a coerência jurídica e política do sistema audiovisual brasileiro.

Considerações adicionais sobre o processo e os custos da negociação

Existem ainda diversos detalhes técnicos e políticos — e não menos importantes. Alguns deixei de lado e foco nos mais essenciais para o objetivo deste artigo, mas os cito aqui rapidamente: entre eles, a divergência sobre a alíquota a ser aplicada às plataformas — há propostas variando entre 12% e o mínimo acordado previamente de 6%, o que demonstra ausência de consenso dentro do próprio setor e arbitrariedade da proposta.

Houve também a redução da contribuição dos serviços de compartilhamento de conteúdo (plataformas como Youtube e Tik Tok), que caiu de 2% para 0,8%, bem como aumento dos percentuais de abatimento e descontos, diminuindo significativamente o potencial arrecadatório e o alcance redistributivo da política. Equiparou-se também, para fins de cota de tela, um episódio de uma série a um longa-metragem, o que enfraquece mais uma vez o cinema.

No geral, as concessões do PL refletem questões cruciais: a que custo se negocia? Quais são as batalhas que precisamos perder? Quais vitórias são de Pirro?

Estamos, de fato, aprovando um marco fundamental para o cinema e a economia audiovisual brasileira. A criação da Condecine-Streaming e a instituição de uma regulação específica para o segmento são medidas necessárias e compatíveis com as práticas de todos os países que possuem produção audiovisual relevante. Chamo atenção não só ao mérito da regulação, mas à forma e ao momento em que ela está sendo conduzida.

Há um legado nefasto nessa aprovação de última hora, no último momento do ano pré-eleitoral: é sintomático que o país só agora consiga pautar um tema que deveria ter sido regulamentado há quase uma década e que era o que mais se esperava do atual governo pelo setor. E o pior, a urgência política está nos levando a aprovar um texto enfraquecido e desequilibrado, sob o argumento verdadeiro de que o calendário eleitoral de 2026 impede qualquer avanço legislativo no próximo ano.

Na prática, isso significa que, se o projeto não for aprovado ainda em 2025, qualquer aprovação só ocorreria a partir de 2027, com a primeira arrecadação efetiva de recursos apenas em 2028, o que representaria mais dois anos de paralisia para o setor.

Essa pressa é compreensível diante do vácuo de política audiovisual do Poder Executivo, mas não deixa de ser trágica. Hoje, a política pública para o audiovisual é ineficiente, desarticulada e politicamente negligenciada. Não há, de fato, investimento político real por parte das lideranças do governo federal — Lula, Haddad e Alckmin — para reconhecer o peso econômico e simbólico do audiovisual brasileiro no PIB e na cultura nacional. As mesmas lideranças que se beneficiam em suas redes sociais com o discurso ufanista do sucesso do cinema nacional. Filmes como “Ainda Estou Aqui”, “O Agente Secreto” e “O Último Azul” são produtos diretos de resultados passados da política cultural quando esta permitiu o desenvolvimento de roteiristas, diretores, elenco e produtores.

Além disso, o Ministério da Cultura, a Secretaria do Audiovisual (SaV) e a Ancine demonstram falta de coordenação, agilidade e capacidade de operação. A SaV age constantemente de forma reativa, relatando-se pega de surpresa pelos movimentos políticos que deveria estar capitaneando. As convocações do CSC (Conselho Superior do Cinema) e do CGFSA (Comitê Gestor do FSA), pilar da política audiovisual, foram poucas, mal conduzidas e ineficientes, e a burocracia da Ancine atingiu níveis paralisantes. Um exemplo concreto: já se passou mais de um ano desde a abertura do último edital do FSA sem que os resultados tenham sido sequer anunciados. Nada aconteceu no longínquo edital da EBC, e acumulam-se derrotas e retrocessos administrativos que comprometem qualquer tentativa de reconstrução institucional.

Esses fatores ajudam a explicar por que o setor aceita negociar em condições desfavoráveis para além do benefício econômico direto de poucos, motivado pelo medo e pela inércia política do governo. Estamos todos batalhando para que algo seja aprovado sem termos campeões da causa como tivemos no passado, seja no governo ou fora dele.

No entanto, esse desequilíbrio de forças, somado ao conservadorismo ignorante do Congresso e à miopia da própria classe audiovisual, com extrema dificuldade de ver e entender pontos de vista e interesses daqueles que não os seus, cria um ciclo permanente de antagonismo, onde ideologias desinformadas prevalecem sobre dados concretos — dados que, aliás, são de difícil acesso devido à falta de transparência e sistematização das informações públicas.

A ausência de indicadores confiáveis e de dados abertos sobre faturamento, investimentos, impacto econômico e resultados das políticas culturais impede qualquer debate qualificado e mantém o setor refém de narrativas distorcidas e simplificações políticas e matemáticas.

Nesse ambiente, a polarização substitui o diagnóstico técnico, e a discussão sobre o audiovisual passa a ser pautada por ressentimentos, disputas de ego e alianças circunstanciais. Reina o “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

A falta de unidade interna da classe, somada à incapacidade institucional do Estado de produzir informação e coordenar políticas de longo prazo, transforma o audiovisual brasileiro num campo fragmentado, onde os interesses imediatos prevalecem sobre a construção de uma política sólida e sustentável.

Assim, a ganância de poucos — amparada por conveniências políticas e pelo pânico de paralisia — acaba por justificar o apagamento progressivo das políticas públicas, reduzindo o papel estratégico do Estado e comprometendo o futuro de uma das áreas mais dinâmicas e simbólicas da economia criativa nacional.

Ainda, fomento público é uma escolha de país — como me disseram recentemente — e, no fundo, é isso que está em jogo.

Em um ambiente verdadeiramente republicano, onde o FSA fosse de fato capitaneado e executado com planejamento por uma Ancine tal qual foi um dia, onde a previsibilidade fosse uma realidade e os tributos fossem recolhidos e geridos pelo poder público, não cometeríamos o erro de aprovar um projeto de lei que transfere de forma desproporcional o poder de decisão para as plataformas. Estamos muito distantes deste ambiente.

Aprovaremos uma lei que tem de muito importante a criação da Condecine-Streaming e, também, um aporte de recursos pessimamente distribuídos. O simples fato de ela existir nestes termos revela a dimensão do nosso fracasso como país em estruturar uma política audiovisual coerente, soberana e à altura de seu potencial econômico e cultural.


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quarta-feira, 12 de novembro de 2025

CONHECENDO AS SETE LINGUAGENS ARTÍSTICAS

Sabe-se que as linguagens artísticas são formas de expressão que atravessam gerações e culturas, permitindo a possibiliade de trasnmitir sentimentos, valores e ideias. No decorrer da história da humanidade, diversas formas de arte se desenvolveram e se destacaram, influenciando a sociedade e a maneira como vemos o mundo. Desse modo vamos estudar um pouco das sete principais linguagens artísticas da história humana e suas características.

Pintura.


Considera como a primeira das linguagens artisticas, assim como nas pinturas rupestres da pré historia humana, a pintura se destaca por ser uma das formas mais antigas de expressão artística. Ela se utiliza das cores e formas para representar a realidade ou a imaginação do artista. Grandes mestres da pintura como Leonardo da Vinci, Vincent van Gogh, Matisse, Caravaggio, Goya, Tuner e Pablo Picasso entre outros por exemplo, foram ícones que deixaram um legado considerável na história da arte.

Escultura.

A escultura por sua vez, envolve a criação de formas tridimensionais a partir de materiais como pedra, metal e argila. Esculturas famosas, como a estátua de Davi de Michelangelo, demonstram a habilidade e criatividade dos artistas ao longo dos séculos. A escultura tambem vai criando novas formas de concepções, nos mais variado tipos de materiais como madeira, marmore, ferro, cimento, argila entre outros. Como toida forma de arte, a escultura vai adquirindo diversas tecnicas trabalhadas na linguagem artistica durante os processos criativos na historia da humanidade.

Música.

A música sem dúvida é uma linguagem universal que atravessa fronteiras e culturas, transmitindo emoções e mensagens por meio de sons e ritmos. Compositores como Ludwig van Beethoven, Wolfgang Amadeus Mozart e Johann Sebastian Bach marcaram épocas e influenciaram gerações.

Dança.

A dança combina movimento, ritmo e expressão corporal para contar histórias e emocionar o público. Desde os balés clássicos até as danças contemporâneas, a arte da dança tem o poder de cativar e inspirar.

Teatro.

O teatro é uma forma de arte que combina atuação, cenografia e iluminação para contar histórias e provocar reflexões. Peças clássicas de dramaturgos como William Shakespeare e Anton Tchekhov continuam a ser encenadas e apreciadas até os dias de hoje.

Literatura.

A literatura utiliza as palavras como ferramenta para criar mundos imaginários, transmitir conhecimento e despertar emoções. Escritores renomados como William Shakespeare, Jane Austen e Gabriel García Márquez deixaram um legado literário que perdura através dos séculos.

Cinema.


O cinema é uma forma de arte que combina imagens em movimento, sons e narrativa para criar experiências visuais e emocionais únicas. Diretores como Alfred Hitchcock, Steven Spielberg e Martin Scorsese revolucionaram a sétima arte e influenciaram gerações de cineastas.

Vale ressaltar que essas são apenas algumas das linguagens artísticas mais importantes da história da humanidade, cada uma com suas características e impacto único na sociedade. A arte continua a nos inspirar, nos emocionar e nos conectar uns aos outros, transcendo barreiras e fronteiras.

Elementos essenciais da linguagem artística: uma análise detalhada dos componentes artísticos essenciais.

A linguagem artística é um meio de expressão fundamental para os artistas transmitirem suas ideias e emoções para o público. Existem diversos elementos essenciais que compõem a linguagem artística e que são fundamentais para a criação de obras de arte significativas e impactantes.

Um dos elementos essenciais da linguagem artística é a forma, que se refere à maneira como os elementos visuais são organizados em uma obra de arte. A forma pode ser geométrica, orgânica, abstrata, figurativa, entre outras, e é fundamental para transmitir a mensagem pretendida pelo artista.

Outro elemento essencial é a cor, que desempenha um papel crucial na criação de atmosferas, emoções e significados em uma obra de arte. As cores podem ser quentes, frias, vibrantes, suaves, entre outras, e são escolhidas com cuidado pelos artistas para transmitir suas intenções.

textura é outro elemento importante da linguagem artística, pois adiciona profundidade e interesse visual às obras de arte. A textura pode ser lisa, áspera, rugosa, brilhante, opaca, e é utilizada pelos artistas para criar contrastes e enfatizar certas partes da obra.

Além disso, a linha é um elemento fundamental da linguagem artística, pois pode ser utilizada para delimitar formas, criar movimento, expressar emoções e transmitir mensagens. As linhas podem ser retas, curvas, pontilhadas, quebradas, e são uma ferramenta essencial na composição de uma obra de arte.

Por fim, a composição é um elemento chave da linguagem artística, pois se refere à maneira como os elementos visuais são organizados em uma obra de arte para criar uma harmonia estética. A composição é fundamental para guiar o olhar do espectador e transmitir a mensagem pretendida pelo artista.

Em suma, os elementos essenciais da linguagem artística são fundamentais para a criação de obras de arte significativas e impactantes. A forma, cor, textura, linha e composição são componentes artísticos essenciais que os artistas utilizam para transmitir suas ideias e emoções para o público, tornando a linguagem artística uma forma única e poderosa de expressão.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

GILVAN LOPES: O ARTISTA PLÁSTICO DE ASSU

Por: Fábio Fernandes

O artista plástico assuense Gilvan Lopes, tem um legado na arte visual potiguar. Ele se mostra como o maior ilustrador e muralista da cidade de Assu no Rio Grande do Norte. Seu estilo figurativo e expressionista, transpõe o cotidiano do povo nordestino em muitas das suas obras. A arte de Gilvan se revela livre de regras acadêmicas, flerta entre o grotesco e o abstrato sintético, sutilmente associados por estéticas cubistas expressas nas artes vanguardistas europeias, que muito influenciaram a formação do estilo modernista no Brasil no inicio do século XX.

O estilo único que caracteriza o grande artista assuense está na capacidade de sugerir o cotidiano através de uma estética que quebra padrões realistas, sem a necessidade de assumir uma obediência à perspectiva, propondo o uso das cores puras na sua mais nítida  essência. As cores de Gilvan reacende o estilo fauvista que se destacou entre as vanguardas europeias com Henri Matisse e André Derain, porém com o cotidiano assuense em voga. Uma vez que essa é a identidade reafirmada pelo artista potiguar.

Ilustração do Mercado do Peixe- Anos 90

Crianças representadas na arte de Gilvan Lopes

Animais sempre aparecem representados em sua obra.

O olhar pálido do sertanejo se revela presente em quase toas as suas obras. O que leva o espectador notar a serenidade e reflexão do sujeito em meio às ações cotidianas. A labuta desses individuos está nítida na expressividade adotada pelo artista.

Em muitos de seus murais, Gilvan apresenta sua influencia no estilo cubista apresentado pelo espanhol Pablo Picasso.
A Mulher tambem é presença marcante na obra de Gilvan.

É difícil associar Assu sem a arte de Gilvan Lopes, uma vez que sua obra não se conteve somente às telas, mas ganhou outros espaços de visibilidade. São nas varias paredes da cidade que o estilo vanguardista do nobre artistas se transpõe, além de preencher ilustrações de vários livros de poesia. Um artista plástico completo, que não se mostra apenas um depoente, mas também parte integrante da cultura visual do estado do Rio Grande do Norte. Gilvan não é só um artista plástico, ele reacende memórias, afetos e história da identidade da terra da poesia. Gilvan sem dúvidas é o maior e mais expressivo artista plástico de Assu, isso é um fato e se torna irrefutável assim como sua estética.

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

WILLIAM TURNER, O PINTOR DAS VISÕES DOURADAS

Considerado por alguns um dos precursores do modernismo na pintura. O inglês William Turner, foi um  pintor, gravurista e aquarelista romântico , destaque  principalmente em função dos seus estudos sobre cor e luz em suas obras. Turner é conhecido por suas colorações expressivas, paisagens imaginativas e pinturas marinhas turbulentas, muitas vezes violentas, dando a impressão de força suprema da natureza, algo que caracterizava a pintura romântica no século XVIII.

Turner nasceu em Maiden Lane, Covent Garden, Londres, numa modesta família de classe média baixa. Ele viveu em Londres toda a sua vida, mantendo seu sotaque característico e evitando assiduamente o sucesso e a fama.  Aos 14 anos de idade, Turner passou a estudar na Academia Real Inglesa em 1789, também estudou arquitetura, abrindo sua própria galeria em 1804.


Turner dedicou-se à pintura da paisagem com paixão, energia, força, interpretando seus temas de forma ética. Seus trabalhos transmitiam uma emoção extrema e foi considerado o ponto culminante da paisagem romântica. Turner foi extremamente precoce, brilhante e bem sucedido. Iniciou na arte aos 13 anos com seus desenhos e com 15 anos atingiu sua reputação. Era um homem solitário, sem amigos e quando pintava não permitia a presença de pessoas, mesmo que fossem outros artistas. 

Uma de suas preocupações principais foi a aplicação da luz e sua incidência sobre as cores da maneira mais natural possível. A viagem que fez a Veneza em 1812 foi de grande relevância, uma vez que o pintor descobriu a importância da cor e conseguiu dar corpo à atmosfera de uma maneira que, anos depois, os impressionistas retomariam o mesmo pensamento na pintura. Dessa viagem, nasceu a obra “O grande Canal – Veneza”.

O trabalho de Turner buscava cada vez mais capturar as imensas forças da natureza, muitas vezes refletindo transformações e questões sociais. Sua arte oferece uma janela atraente para sua era de rápida modernização. O fascínio de toda uma vida por invenções, política, sociedade, cultura e ciência moldou muitas de suas obras mais originais e influenciou profundamente sua técnica. Além das paisagens, ele foi cativado pelas máquinas e pela indústria, o que o tornou o primeiro pintor a reconhecer e integrar a Revolução Industrial à pintura de paisagens.

Turner é sem dúvidas um expoente da pintura romântica do século XVIII, e sem dúvida, uma ponte entre o as visões realistas, pictóricas e sugestivas, que o unem a visão paisagísticas com a chegada das maquinas numa transformação social e revolucionaria. Ele deixou para trás mais de 550 pinturas a óleo, 2 mil aquarelas e 30 mil obras em papel. Hoje em dia, Turner é considerado como um detentor de uma pintura paisagística sofisticada, elevada a uma eminência que rivaliza com a pintura histórica, embora tenha  vivido na miséria e com saúde precária até sua morte em 1851 aos 76 anos. William Turner está enterrado na Catedral de Saint Paul, em Londres.