“Homem de bem com a vida, a favor da vida. A quem a vida nada se nega. Criador de um lirismo em prosa e verso, falado e cantado, e sempre de exaltação a vida. A canção em Vinícius nasce de um encontro, não vem de um conflito. Encontro consigo mesmo, com o outro, com sua cidade. Com o menino livre e feliz que foi, com o tempo da infância, fonte inesgotável quando tudo era indizivelmente bom. Menino de beira de mar, os carinhos de vento no rosto e as frescas mãos de maré nos seus dedos de água. Encontro com o próximo, com aquele que se dá à vida. O que não se defende, o que não se fecha, o que não se recusa participar do espetáculo fascinante da grande e da pequena ventura de viver. Encontro com os amigos, parceiros da vida em comum, amigos da arte em comum. Encontro com a mulher amada, amiga infinitamente amiga. Encontro com a mulher do povo entre moringas e cenouras emolduradas de vassouras. Com o operário em construção, dono de uma nova dimensão, a dimensão da poesia. Encontro de sensibilidade pessoal com o sentimento popular da inspiração e da técnica pessoal com o ritmo e inspiração geral. Encontro da mulher com o homem, do amor. Das palavras com a música, da poesia com a canção. Poesia de aliança com a vida e canção de aliança com a multidão. Voz pessoal, mas compreendendo muitas vozes. Encontro com uma voz com todas as vozes.
Poeta do encontro, cantor de vida. Vinicius tomou partido do sentimento contra o ressentimento.
Por isso, ele não semeia pedras como aquele que não ama.
Semeia canções, poesia.
Vinicius canta o povo.
O povo canta Vinicius.
A bênção, Vinicius de Moraes.”
(Texto de Otto Lara Resende, escrito para o lançamento do primeiro LP ao vivo de Vinícius de Moraes gravado no “Teatro Municipal de São Paulo” em dezembro de 1965. O disco se chamou “Vinícius: Poesia e Canção” e alternava a execução de seus sambas e a recitação de poemas. Quem abre esta faixa é o inconfundível Paulo Autran.)
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