terça-feira, 7 de agosto de 2012

Re- Postagem : Um pouco sobre o poeta assuense Renato Caldas


A nossa re-postagem mostra um pouco do ilustríssimo poeta assuense Renato Caldas, este pelo qual tive muita felicidade em acompanhar seus poemas na minha infância e adolescência no meu ciclo vital por Assu-RN.

Poeta Renato Caldas


O poeta assuense Renato Caldas (08.10.1902-26.10.1991) é considerado o maior representante da poesia matuta norte-rio-grandense. Comparado a nomes como Catullo da Paixão Cearense e Zé da Luz, Caldas conseguia, de modo simples e espontâneo, abordar temas como o amor, a vida no meio rural, a simplicidade do homem do campo, a natureza e a beleza feminina. Recebeu a alcunha de “O poeta das melodias selvagens” por causa da rudeza e originalidade de seus versos. A obra mais conhecida do poeta chama-seFulô doMato (1940).

O nosso “poeta das melodias selvagens”, concentrou sua poética na valorização do regional, representando em uma linguagem “rudimentar” as características de um povo sertanejo. “Tinha na sua paisagem e até no lado grotesco do seu povo os motivos permanentes de sua poesia”. O meio rural, a natureza e a beleza feminina são temáticas que permeiam boa parte de suas obras.Vamos encontrar na figura invulgar de Renato um homem de temperamento expansivo e um grande colecionador de momentos felizes mesmo quando em situações adversas. Assim como era a poesia, a boemia e a cantiga popular também faziam parte de sua vida como todo o componente do seu ser. Coincidindo com a sua irrequieta personalidade, seus poemas refletem a imagem de um poeta boêmio e ousado que sempre esteve acima do cárcere da vida açuense e da opinião alheia. Dessa personalidade indomável, emana uma poesia movida à paixão dos valores nordestinos, onde o poeta faz comoventes evocações de sua terra de origem, em uma mistura de memória e sentimento telúrico que demonstram o exacerbado amor que tem pelo Assu, sua terra natal.

Renato Caldas sendo admirado pelo Professor Aldo Cardoso (um dos incentivadores do teatro pra mim)

A exaltação à beleza e o desejo do homem simples, que ama e que sofre, são expressos em versos como:Fulo do Mato, Rebuliço, Lagoa das Moças entre outras que fizeram deste poeta uma das maiores referências da poesia do Rio Grande do Norte.

Aqui podemos conferir um belíssimo texto do nosso querido e amado poeta:

Fulô do Mato

Sá dona vossa mecê

É a fulô mais chêrosa,

A fulo mais perfumosa

qui o meu sertão já botô!

Podem fazê um cardume

de tudo que fô prefume

de tudo qui fô fulô,

qui nenhuma, nem uma só

tem o cheiro do suó

qui seu corpinho suô.

- Tem cheiro de madrugada,

Fartum de areia muiáda,

Qui o uruváio inxombriô.

É um cheiro bom, déferente,

Qui a gente sintindo, sente,

Das outa coisa o fedô.

...

Em Poetas e Boêmios do Açu, Ezequiel da Fonseca Filho registra esta maravilha:

"Seu môço, meçê já viu

Uma seca no sertão?

Os oios de vosmicê

Já viu essa afrição?

De vê morrendo de fome

Um miserave, um cristão?


Mecê, jáviu algum dia

Um casebre abandonado,

Morrendo gente lá dentro,

Tudo pelo chão deitado

Sem pudê se alevantá...

Ficando ali sepurtado?


E as retiradas, seu moço

Nem é bom ninguém falá.

Vê as muié quaje nua,

Quaje sem pudê andá..
.
O fio morrendo à fome

Sem tê leite pra mamá.



Tem outras coisas, seu moço

Qui fáz pena, qui traz dó,

É vê toda bicharia

Berrando naquele horrô!

Berrando cheirando o chão, 

Onde a água se acabô.


e pra finalizar, uma bela saudação à cidade do Assu:


Assú

Assú de chapeu de palha!

Que luta... vive e trabalha

Somente para comer.

Assú que vive sofrendo

A própria dor escondendo

A angústia do seu viver!



Heróis, poetas, escritores

Boêmios e trovadores

Ilustraram tradições!

Que não serão sepultadas

Para serem proclamadas

Pelas novas gerações.



Meu Assú das vaquejadas!

Das noites enluaradas...

- Que gratas recordações!

-Cantigas feitas de sonhos

Dos seresteiros risonhos,
 
Conquistando corações.



Dança dos Congos, Lapinha,

Folguedos da argolinha,

Bumba meu boi! Pastoril

Eram brincos engraçados,

Hoje porém divulgados

De norte a sul do Brasil.



E, como o tempo é cruel!

Jogos de prenda... e anel

Ninguém sabe onde ficou?!...

Sei eu, onde está guardado

O meu Assú do passado,

Minha saudade guardou.

Esta é apenas uma breve homenagem a esse poeta de grande valia para a história desse município de grande evidencia no nosso querido RN. 





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