terça-feira, 27 de agosto de 2019

INCÊNDIO NA FLORESTA - (Cordel) - FÁBIO FERNANDES




Certo dia na floresta
Um incêndio aconteceu
Disseram que foi o homem
Que esse fato sucedeu
Vou contar bem detalhado
Como o fogo ocorreu.

Começou numa fagulha
Que um cigarro apresentou
Bem no mêi do mato seco
Que a piúba então tocou
Aos poucos o fogaréu
Na floresta se formou

Logo logo a correria
Pelos bichos lá na mata
Tava tudo assustado
Como o fogo se alastrava
Quanto mais passava o tempo
Mais a chama se aumentava

De um lado para o outro
Foi grande a correria
Era peba-tatu e téjo
Onça, cobra e até gia
Corre-corre era fatal
Uma grande agonia

No meio do corre-corre
Um pequeno animal
Fazia a rota inversa
Voltava pro matagal
Os bichos não entendiam
 Aquele retorno fatal

Um pequeno beija-flor
Voltava apavorado
Com o bico cheio d’água
Parecia tão cansado
Gotejava na fogueira
Tava sendo ameaçado

Depois ele retornava
Ao riacho a pegar água
Com o seu pequeno bico
Já não mais se apavorava
Retornava a fogueira
E os poucos se apagava

Bicharada percebeu
A ação do beija-flor
-Deixa disso passarinho
Alertou o Dom. castor
É loucura apagar fogo
Porque ele se alastrou


O macaco atordoado
Não entendeu o pequeno
Voando pra todo lado
Enfrentando aquele incêndio
Pulava de galho em galho
E via bicho morrendo

Logo o macaco pensou
- Eu não posso entender
Que um pequeno beija-flor
A mata quer socorrer
Largue disso pequenino
Pois assim tu vai morrer.

Rastejando o jacaré
Com tamanha covardia
Sabia que até na água
Tava ruim de moradia
Pois o fogo apertava
Por toda a cercania

Velha onça ali fugia
E levava a família
Nesse momento a brabeza
Té então não existia
Valentia da felina
Até ela esquecia


Cascavel, surucucu
Jararaca e sucuri
Rastejavam tão ligeiro
Com ajuda do sagui
Era presa e predador
Tudo tentando fugir

Tamanduá bandeira
Foi embora com as formigas
Já perdera o apetite
Por aquelas pequeninas
Um incêndio na floresta
As tornaram mais amigas

Enquanto o fogo pegava
Beija-flor continuava
A tentar conter o fogo
Mais e mais se espalhava
Pegar água com o bico
O pequeno não cessava

Javali não aguentou
Beija flor interrogou
Pare, pare pequenino!
Fogaréu não se apagou
Esse fogo é gigantesco
Ou será que não notou?


- Me desculpe beija-flor!
Devo entrar nessa porfia
Pra dizer que o javali
Tem razão no que dizia.
Disse o lobo atrevido
Que então se intrometia

- Somos todos bem maiores
Podemos cessar o fogo
Mas decidimos fugir
Ao fazer papel de bobo
Saiba que é impossível
De você virar o jogo

O pequeno beija-flor
Logo resolveu falar
- Sei que sou bem pequenino
Para o fogo apagar
É uma missão difícil
Isso posso confirmar

Mas no meio do  incêndio
Todos estão a correr
Fugindo com todo espanto
Pra poder sobreviver
Eu não tenho porte grande
Pra esse fogo conter


Com o meu pequeno bico
Vou ao riacho pegar
Suaves gotas de água
Para o fogo apagar
Eu arrisco minha vida
Para a de todos salvar

Todo mundo percebeu
Que o pequeno voador
Sozinho, quem reagiu
Ao fogo devorador
Para a fauna, covardia.

Orgulho do beija-flor.



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