sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mimica e Teatro Físico (Breve definição)

Teatro físico é a construção de formas compreensíveis ao imaginário coletivo, feita através do corpo do ator e que comunique a esse imaginário, sejam formas de sombras, móveis e fixas, com ou sem estrutura dramática, estílo, e que não necessita do uso da palavra, embora não necessariamente a exclua.



A origem do termo "Teatro Físico"

Desmond Jones, diretor e professor de uma das mais conceituadas escolas de Mímica e Teatro Físico no Reino Unido responde, em aula inaugural do intenso programa de seu curso, a pergunta mais repetida por seus alunos nessa ocasião: Afinal, o que é Teatro Físico?

O diretor responde de uma maneira direta que a Mímica Contemporânea e o Teatro Físico são a mesma coisa. Segundo ele, o termo Teatro Físico foi instituído devido às confusões e ao preconceito de muitos, tanto do público, como dos artistas, da palavra mímica. Isso acontece devido a esta arte ser associada erroneamente, por muitos, ao gênero silencioso da pantomima de Marceau e de suas cópias que se multiplicaram por todos os continentes, como já pudemos analisar anteriormente. Por esta razão, segue Desmond, alguns grupos começaram a introduzir o termo Teatro Físico para a Mímica Contemporânea que explora a arte da mímica como um ato total, que une o corpo, a voz e a criação na figura do ator.

O termo physical theatre tornou-se conhecido nas artes cênicas nas três últimas décadas do século XX, caracterizado como uma nova tendência teatral. Acredita-se que ele tenha surgido primeiro na Inglaterra. Leabhart concorda com Jones ao fundir os dois termos (Teatro Físico e Mímica Contemporânea) e acrescenta:

Decroux, junto com outros dois gigantes contemporâneos, Lecoq e Grotowski, compartilhavam das mesmas idéias. Os três imaginavam o teatro físico que não era, primeiramente, literatura e que tinha a dramaturgia dentro e do corpo. (MIME JOURNAL, 2000/2001:149)

O Teatro Físico tem seu período de experimentação nos anos 60, sua consolidação nos anos 70 e 80, com o trabalho de várias companhias, entre elas o grupo de Steven Berkoff, o Theatre du Movement, o Theatre de Cumplicitè, o Theatre de Soleil e outros. A partir da década de 70, a mídia passou a classificar os grupos que traziam a característica corporal e autoral, difundida pela mímica moderna, somada com elementos do circo, da dança e do teatro experimental dos “fringes”, de Teatro Físico. Tal movimento rompe com o logocentrismo, o textocentrismo e promove uma nova forma de pensar o corpo, valoriza o ator-criador e a dramaturgia do corpo.

O termo physical theatre passou a ser conhecido no Reino Unido no começo dos anos 70 e foi lá, segundo Kershaw (1992), o primeiro lugar a empregar este termo na mídia de comunicação de massa, por meio da conhecida revista de entretenimento semanal Time Out. John Ashford, editor de teatro desta revista londrina, passou a influenciar críticos e jornalistas em outros veículos, devido à classificação publicada por ele, diferenciando o processo de criação e colocando a categoria Teatro Físico para os espetáculos onde o corpo e a voz eram centrais, o que o diferenciava de outras categorias como a de Teatro de Escritor, em que o texto é fundamental no processo artístico.

(...)O movimento das artes da atuação física, que teve a sua base na França na primeira metade do século XX, foi acolhido pelo Reino Unido na outra metade e devido à forte aceitação do público, da classe artística, da mídia inglesa e dos incentivos na produção de seus espetáculos, fez da Inglaterra a sede do Teatro-Físico, de onde nascem diversos grupos, festivais, escolas e cursos desta prática.

O Teatro Físico ou Mímica Contemporânea refere-se a um momento em que a arte se distancia do purismo e caminha para a somatória da mente/corpo e voz na síntese do ator-criador, que participa de todos os momentos de criação do processo artístico, assinando, muitas vezes, a autoria do texto teatral.

(...) Os atores contemporâneos, alimentados por mais de meio século de pesquisas, passam a seguir os ensinamentos do pai da Mímica Moderna, Etienne Decroux, que na sua intensidade defendia que, se houvesse um autor no teatro, este seria o ator. A estranha divisão de funções feita no naturalismo com o autor sentado, pensando e escrevendo o texto que seria entregue para o ator, que somente então iniciaria o seu trabalho como intérprete do texto, é a quebra mais notória do ator do Teatro Físico, que não mais inicia seu trabalho pela metade, como diz Denise Stoklos em entrevista realizada por Pedro Brício em 27/10/2000:

No meu entender o trabalho que sobra para o ator é da metade em diante, isto é, alguém já criou aquele personagem e ele tem que realizar bem aquilo. Não que isso seja menos, não se pode dar uma criação de valores entre o que é mais valoroso. Mas no meu entender é muito mais rico, o intérprete, o ator, fazer esta trajetória inteira. Descobrir qual personagem que ele gostaria de criar. Ele próprio criar o contexto, que é a dramaturgia, e ele mesmo ser o diretor, isto é ser narrador ao mesmo tempo. (BRÍCIO, 2000:47).

A atriz refere-se ao ator-intérprete do teatro tradicional que é direcionado pelo texto literário e a diferença do ator-criador, que participa de todo o processo criativo. A modificação na figura do ator-criador no processo de criação que não se inicia por um texto, mas sim pelo corpo e na nova maneira de pensar este corpo, será uma das grandes alterações propostas no Teatro Físico.

(...)Mas como definir, afinal, o Teatro Físico? Dymphna Callery arrisca:

Teatro-Físico é o teatro onde o meio primário de criação acontece no corpo (...) Isto não significa que a exigência intelectual seja excluída. O intelecto é assimilado por meio do envolvimento do corpo. (CALLERY, 2002:4)

(...) Mais adiante, Callery focaliza a entrada de alguns segmentos da dança para o Teatro Físico, principalmente aqueles que encorajam mais os dançarinos a criar do que interpretar, como é o caso do grupo de dança DV8, fundado pelo australiano Lloyd Newson, que foi a primeira companhia de dança a usar a denominação Teatro Físico conscientemente.

O diretor responde(...) Vários festivais de Teatro Físico acontecem por todos os continentes, destacando o Festival Internacional de Mímica, em Londres, onde grupos de todos os países participam anualmente com espetáculos, workshops e palestras e que já se firmou como uma referência para esta arte. É importante, também, citar o Festival de Edimburgo que ocorre no verão europeu e que conta com uma vasta programação nesta área.


Fonte
http://www.cialuislouis.com.br/tf-origem.htm




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