Escreve o teu poema
como se fosses morrer amanhã.
E não te esqueças de nada:
as caixas de fósforos vazias
perdidas nas calçadas;
os pacotes largados nos ônibus;
os meninos que jogam futebol,
nos últimos subúrbios;
o pássaro que pousou no fio telegráfico
cantou sua canção e foi embora;
o homem que pediu dinheiro para o café,
que tinha chegado de uma cidade longe
e estava desempregado;
as noites em que andaste sozinho
pelas ruas;
a grama que pisastes, despreocupado
e que, no entanto, afastava as pedras da rua,
para poder nascer;
a bailarina que o teu amigo desenhou
e guardas, com o maior carinho;
a névoa de longínquas madrugadas;
a visão de crepúsculos em chamas.
Tudo o que viste e amaste pelo mundo,
as coisas mais sublimes,
a mais humilde das criaturas,
deixa que pousem e palpitem nos teus versos,
porque, amanhã, amigo,
poderá ser o último dia
e tu não partirás inútil.
Deífilo Gurgel, (agora eterno).
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