Por Fabio Fernandes
A linha ténue entre arte e realidade nem sempre segue rumos divergentes. Recentemente tivemos um exemplo de que a Arte pode tornar-se “perigosa” se executada sem responsabilidade, falo de um caso que embora tenha passado despercebido em grande parte da mídia possibilita uma reflexão de grande significância, quando se trata em pensarmos o fazer artístico consciente.
Ator Tiago Klimeck (Internet)
O objeto de investigação pra esse texto está no caso que acarretou a morte do ator Tiago Klimeck de 27 anos, no dia 23-04-12, este sofreu um acidente de trabalho, em meio a apresentação de uma tradicional peça A Paixão de Cristo realizada em Itararé (SP). O que ocorreu de fato foi um enforcamento acidental do ator em cena, embora o rapaz tenha sido internado durante 17 dias na UTI, este não resistiu aos ferimentos e veio a óbito posteriormente.
Exposto os respectivos dados do fato, proponho discutir de que maneira a arte até então inofensiva, ganha uma nova realidade, até onde temos que “representar representando que representa”? Em meio à tão gritante aliteração, percebemos que o teatro está sendo “visto” com mais “realismo” e menos poesia, subjetividade e representação simbólica. Creio que se faz necessário conhecer o LIMITE entre a arte (abstração) e vida real. Não temos que cair em um cliché bobo de, por exemplo: representar a morte de Jesus com tamanho realismo, usar tinta pra representar sangue e dramaturgicamente seguir a mesma linha cronológica - Inicio, meio e fim.
Por que não assumirmos que o que está sendo visto é teatro, representação, metáfora? O que nos impulsiona a confundir a estética teatral com a pura realidade a ponto de proporcionar fatalidades como a que leva a temática desta reflexão? Será que é o fato de sermos românticos por excelência, e buscarmos o resultado da representação “perfeita” através da mera catarse? Por que temos que emocionar por dentro e não com o senso crítico? Estas são questões que nos leva a perceber que se faz necessário fazer teatro ou qualquer ação cotidiana primando pela responsabilidade à sã consciência das ações executadas.
Também faz parte desse limite, saber reconhecer os recursos técnicos disponíveis para a execução da peça (em especifico), questionando antes de tudo se há possibilidade de executar tal cena, se possuímos a experiência pra ação em questão, se sabemos o que estamos fazendo e se preocupando acima de tudo com a integridade física do ator e equipe técnica no decorrer do espetáculo.
No caso especifico o que pode ter ocorrido para essa fatalidade foi uma falha técnica. Não digo que estamos longe delas, embora saibamos que erros acontecem, como meio de reflexão, o que podemos fazer pra solucionara esses problemas? Será que não seria mais prático e seguro contratar o profissional técnico que detém o conhecimento necessário para sua execução e que conhece as normas técnicas de segurança? Até onde não o tornamos a arte uma fatalidade?
Não quero responder tais questões, até porque são processos diferentes que passamos nas entranhas artísticas, mas atento para nós produtores de arte, refletir sobre nossos processos, ler sobre segurança, estética, filosofia... Enfim, engrandecer nosso repertório, primar por uma arte crítica, que busque o belo sem ignorar o grotesco, e conhecendo o limite entre arte e realidade, buscar mostrar que o que se apresenta é um trabalho artístico com responsabilidade, segurança e ciência das ações executadas.
Portanto, proponho refletirmos o caso(lamentável) do Tiago Klimeck, sempre que formos montar uma obra, buscarmos a segurança e nos preocupar em executar a ação em sua essência poética, tomarmos cuidado pra não buscar um realismo que se confunde com a realidade, tudo em prol de um mero e momentâneo efeito catártico.
REFERENCIA
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