Hans Wegner, Arne Jacobsen, Verner Panton, Eero Saarinen, Nanna Ditzel e Louise Campbell. O que esses grandes nomes do design têm em comum? São todos representantes da Escandinávia, região que tem se mostrado celeiro da vanguarda do design por muito tempo.
© Hans Wegner, (Wikicommons, Ninahale).
Ao se procurar referências sobre ícones do design, a associação com o design escandinavo é natural e imediata. A fama do design originado na Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia se perpetua através do tempo, mantendo-se como vanguarda e reiterando o seu valor como ícone clássico e do bom gosto.
O desafio da industrialização
O design escandinavo passou a se tornar notório na década de 1950, devido à sua funcionalidade e praticidade, mas a sua história começa muito antes, na primeira metade do século XIX, com o término do sistema tradicional de produção artesanal devido à evolução da produção industrial. Enquanto muitos países viam suas tradições artesanais serem perdidas, a Suécia criou em 1845 a Sociedade Sueca de Artesanato e Design Industrial que visava a evolução dos meios de produção, porém sem perder as características que tornavam o produto artesanal escandinavo digno de excelência.
Essa tentativa de manutenção da excelência artesanal ocorreu não só na Suécia, como também nos demais países escandinavos, que passaram a trabalhar em busca da modernização que tornasse seus produtos competitivos e atraentes internacionalmente, mas sempre sem perder a qualidade que os caracterizava. A Exposição de Artes e Indústrias de Estocolmo, em 1897 ajudou o início da sua projeção internacional.
Funcional, simples e barato
Apesar da fama do design escandinavo vir desde o final do século XIX, o seu auge só foi alcançado mesmo na década de 1950, quando o desenho simples, funcional, minimalista e barato que tornava a produção em massa altamente viável passou a ser aclamado no pós II Guerra Mundial. Em 1951 foi criado o Lunning Prize, prêmio atribuído a eminentes designers escandinavos que durou até 1971 e consagrou internacionalmente nomes como o do designer dinamarquês Hans Wegner.
Some agora a todas as características já citadas uma boa dose de talento. Esta região é desde há anos celeiro de grandes talentos que acrescentam à excepcionalidade do produto escandinavo uma boa dose de originalidade e vanguarda.
Um dos grandes nomes desta interminável safra é o dinamarquês Hans Wegner (1914-2007) que estudou na Escola de Artes Aplicadas de Copenhagen onde posteriormente foi professor. Seu estilo, que agrega funcionalidade orgânica ao modernismo, ficou famoso em todo mundo e contribuiu para a disseminação da qualidade dos produtos dinamarqueses. Wegner desenhou mais de 500 cadeiras diferentes, sendo que, destas, 100 foram artigos de produção em massa. Sobre a excelência e simplicidade do design disse: "Muitos estrangeiros têm me perguntado como nós fizemos o estilo dinamarquês. E eu respondi que sim ... foi um processo contínuo de purificação, e para mim de simplificação, para reduzir os elementos mais simples possíveis de quatro patas, um assento e combinado trilho superior e apoio de braço. "
© Arne Jacobsen, Cadeira Ant (imagem da esquerda), (Wikicommons).© Arne Jacobsen, Cadeira Série 7 (imagem da direita), (Wikicommons).
A Dinamarca também é berço de talvez um dos mais famosos designers escandinavos. Arne Jacobsen (1902 - 1971) era também arquiteto e estudou na Academia Real Dinamarquesa de Belas Artes. O trabalho de Jacobsen é versátil: inclui edifícios, mobiliário, papel de parede e talheres. Porém, o que o tornou de fato um ícone mundial do design e o levou a ganhar vários prêmios internacionais foram suas cadeiras. A cadeira Ant de 1951 e a Série 7 de 1955 se tornaram as cadeiras de maior sucesso comercial do mundo.
© Arne Jacobsen, Cadeira Egg, (imagem da esquerda), (Wikicommons, Scott Anderson).© Arne Jacobsen, Cadeira Swan, (imagem da direita), (Wikicommons, Sailko).
Um terceiro dinamarquês se tornou um dos ícones do design inovador, com obras profundamente não-convencionais. Verner Panton (1926 – 1998), engenheiro e arquiteto, chegou a trabalhar com Arne Jacobsen, mas logo montou seu próprio escritório e enveredou por um mundo de cores e formas que desafiam a lei da gravidade. A Cadeira Panton de 1960 ganhou vários prêmios e se tornou peça de museu por seu design inovador, sendo a primeira cadeira de plástico feita de um único ponto. O próprio Panton resumiu muito bem seu trabalho "A maioria das pessoas passam suas vidas vivendo nas sombras, numa conformidade bege, mortalmente com medo de usar cores. O propósito principal do meu trabalho está em provocar as pessoas para usar sua imaginação e fazer as suas imediações mais emocionantes”.
© Verner Paton, Móveis, (imagem da esquerda) (Wikicommons, Hans Jørn Storgaard Andersen).© Verner Paton, Cadeira Heart Cone, (imagem da direita) (Wikicommons, Desmeki).
Mas nem só de dinamarqueses é feita a fama do design escandinavo. Eero Saarinen (1910-1961) foi um arquiteto finlandês e designer brilhante. Cresceu nos Estados Unidos, na Comunidade de Arte de Cranbrook em Michigan onde seu pai lecionava, e era amigo dos famosos designers americanos Charles e Ray Eames. Saarinen se associou a Charles Eames, com quem desenvolveu uma série de móveis vanguardistas que receberam prêmios - inclusive do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa. Saarinen é considerado um dos mestres do design e uma de suas criações mais famosas é a série de cadeiras Tulipa.
© Eero Saarinen, Cadeira Tulipa (Wikicommons, Holger Ellgaard).
Mas não temos apenas homens. Duas designers têm grande destaque internacional e honram a participação feminina na tão falada excelência escandinava. Ambas são dinamarquesas. Nanna Ditzel (1923-2005) estudou na Escola Dinamarquesa de Artes e Ofícios e na Academia Real de Belas Artes de Copenhague. Seu trabalho ficou conhecido no pós II Guerra por utilizar materiais e técnicas inovadoras. Ditzel criou, além de peças de mobiliário, projetos em tecelagem e joias. O estilo de Nanna é conhecido por ser arrojado e conjugar de maneira incrível elementos geométricos e organicidade. Sua cadeira Bench for two ganhou em 1990 a Medalha de Ouro no Concurso Internacional de Design de Mobiliário no Japão.
© Nann Ditzel, Banco para dois.
A segunda é a designer Louise Campbell (1970-), que se formou na London College of Furniture em 1992 e continuou seus estudos na Dinamarca, na Industrial Design at Denmarks Design School. Em 1996, inaugurou seu estúdio de design. Seu trabalho se destaca por misturar “racionalismo escandinavo e feminilidade” (como é descrito em seu próprio site), resultando em um trabalho funcional, porém extremamente delicado. Campbell também investe em atividades como curadoria de exposições focadas no artesanato contemporâneo.
© Louise Campbell, Bless You (Wikicommons, BRAHL FOTOGRAFI).
O design escandinavo é referência mundial e ainda se mantém como vanguarda por possuir uma mistura única que agrega funcionalidade, conforto e simplicidade a uma boa dose de talento. O resultado se traduz em obras de encher os olhos!
bianca vale é apaixonada por Design, Van Gogh, histórias bem contadas e gentileza. Pensa em um milhão de coisas ao mesmo tempo e resolveu começar a escrever para dividir tanta inquietude com outras pessoas. Saiba como
fazer parte da obvious.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/08/design_escandinavo_vanguarda_atraves_do_tempo.html#ixzz24FCEOZRM