terça-feira, 9 de outubro de 2012

Menino de 12 anos supera deficiência e se destaca em orquestra no Recife


Por Luna MarkmanDo G1 PE

Ednaldo José nasceu com 2 dedos na mão esquerda, mas lutou por vaga.
Assim como ele, Edmilson, Lauária e Luhan também superaram dificuldades.


Ednaldo não ligou para deficiência na mão e conquistou vaga na Orquestra (Foto: Luna Markman/G1)  Ednaldo José, 12 anos, soube que a Orquestra Criança Cidadã, no Recife, estava selecionando novos alunos no último mês de abril. “Não custa nada tentar”, pensou. Pediu à avó para inscrevê-lo. Queria ser percussionista. No dia do teste, não estava tão confiante assim.

Cruzava os braços, colocava uma mão no bolso. O professor percebeu o que incomodava o menino e, ao fim dos tímidos batuques, surpreendeu-se. O garoto tem apenas dois dedinhos na mão esquerda, mas encontrou um jeito de segurar a baqueta e tirou a nota máxima entre os concorrentes.

Começou assim a história de Ednaldo no projeto social, antes batizado de Orquestra Cidadã Meninos do Coque, que completou, na quinta-feira (4), seis anos. Realizado no Quartel do Cabanga, atende cerca 130 jovens, com idades entre quatro e 19 anos, moradores de um dos bairros mais violentos e de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Grande Recife, a comunidade do Coque.

Além de aula de música, os alunos recebem apoio pedagógico, alimentação e atendimento médico. Um presente diário para crianças como Ednaldo, que chegou a duvidar da sua capacidade de entrar na Orquestra.
O menino explica que já nasceu com a deficiência na mão. “Mas nunca sofri preconceito não, nem deixei de fazer as coisas que gosto, mas achei que talvez não me aceitassem na Orquestra”, comentou. Depois de dois meses de teste, Ednaldo está empolgado com a bateria, que já estuda há quatro meses.
O professor Enoque Souza lembra como foi o teste. “No começou, ele ficou tentando esconder a mão, mas quis dar uma chance. O menino, ao invés de pegar na baqueta do jeito mais comum, com o polegar e o indicador como uma pinça, ele fez, sem saber, a técnica mais tradicional, que não precisa de todos os dedos para dar mais controle à mão. Hoje, está tocando muito bem, compensa a deficiência com muita dedicação”, disse.

Edmilson tenta superar dificuldades com a música (Foto: Luna Markman/G1)
Edmilson, 14 anos, tenta superar dificuldades ocupando o

tempo com a música (Foto: Luna Markman/G1)
Notas de felicidade

Ednaldo encontrou na Orquestra uma autoestima a mais para a vida. Edmilson Barros, de 14 anos, ainda foi mais além. É no projeto que acha a felicidade tantas vezes roubada.

O pai foi assassinado há três meses. A mãe está viciada em drogas. Tem dificuldade em memorizar informações, problema herdado do parto complicado. Ao invés das partituras, procura reproduzir os sons.

Foi selecionando em 2010, mas saiu no ano seguinte. No começo deste ano, voltou ao Quartel do Cabanga. Agora, toca percussão. Vai bem na escola, está no quinto ano. É preciso tirar boas notas para continuar na Orquestra.

É de poucas palavras e riso muito contido. Gosta de tocar maracatu. E o futuro? “Quero ser jogador de futebol”, fala e, aí sim, abre um sorriso. Não sabe se vai receber presente este ano, acha que já está velho. “Mas eu queria ganhar um [videogame] PlayStation.”

Inspiração múltipla

Luhan Lucena tinha cinco anos e estava brincando na rua quando viu dois meninos passando com violoncelo e violino. Ficou curioso e descobriu sobre a Orquestra Cidadã. Fez o teste e passou. Hoje, aos nove anos, é o mais novo violonista da banda.

Irmãos na Orquestra (Foto: Luna Markman/G1)
Irmãos Lauária e Luhan tocam juntos na Orquestra Cidadã




Se interessa por quase todos os outros instrumentos, da flauta doce ao violão. "Se eu não estivesse aqui, estudante, estaria na rua, com uns amigos que gostam de influenciar os outros. Ficam brigando e falando palavrão. Agora, penso muito em viajar, conhecer outros lugares", comentou.

Luhan gosta das obras de Mozart e Vivaldi, mas curte mesmo o som gospel. Frequenta a Igreja Batista com a irmã, Lauária, 13 anos. Ela também está na Orquestra, tocando piano. Foi para o projeto indicada pelo Conservatório Pernambucano de Música, onde é bolsista.

Ambos estudam e garantem que estão com notas boas. "O bom da música é que ela nos dá disciplina e trabalha o cérebro", disse Lauária, que queria ganhar no Dia das Crianças um piano. "Pode ser de caixa, simples mesmo", falou. "Também desejo que outras crianças encontrem um caminho bom como nosso e sejam pessoas honestas", complementou.

O projeto da Orquestra Criança Cidadã foi idealizado pelo juiz João José Rocha Targino e iniciou suas atividades em 2006, sob a coordenação musical do maestro Cussy de Almeida, falecido em 2010. Atualmente, quem assume a função é o maestro Lanfranco Marcelletti Jr.


Gustavo Paco rege a Orquestra Criança Cidadã no concerto de aniversário de seis anos, na Igreja da Madre de Deus (Foto: Milton Raulino/ Orquestra Cidadã)Gustavo Paco rege a Orquestra Criança Cidadã no concerto de aniversário de seis anos, na Igreja da Madre de Deus (Foto: Milton Raulino/ Orquestra Cidadã)
Disponivel em :http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2012/10/menino-de-12-anos-supera-deficiencia-e-se-destaca-em-orquestra-no-recife.html

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