por mauricio de boni
© Jack Kerouac, 1956 (Wikicommons).
Francine Prose, autora de “Para ler como um escritor – Um guia para
quem gosta de livros e para quem quer escrevê-los” (2008, Jorge Zahar
Editor), organizou . Sua maneira de ensinar análises e citar obras
obrigatórias revela que para os iniciantes da arte da escrita a paixão é
pedra fundamental. Uma das lições iniciais de seu livro fala sobre a
insuperável importância da frase de abertura das obras. Grande parte dos
escritores é apaixonada por construir belas frases, principalmente esta
primeira, fundamental.
Prose aponta a leitura desacelerada e atenta como método para o
trabalho estilístico - em alguns casos levado ao extremo – não passar
despercebido. Dada a importância da primeira frase, é ela que evidencia o
que será desenrolado pelo resto das páginas e define se o leitor
seguirá até o fim.
Não importa o tamanho ou o rebuscamento; a frase pode
tanto conter apenas quatro palavras como ser abarrotada de
subordinações ordenadas em cascata. É ela que desencadeia o mistério,
revela o estilo, introduz a trama, em suma, captura o leitor.
É notável como, de acordo com Prose, os autores dão importância a isso. Tanto os por ela citados como os escolhidos ao acaso. Jack Kerouac, escritor cerne da geração Beat, logo de cara joga o leitor no meio de suas andanças e peregrinações sem roteiro que, desenroladas, não acabam necessariamente com o fim do livro. Sem rodeios, Kerouac quer mesmo transmitir certa falta de noção em suas grandes viagens, e faz isso bela e energicamente, levando o leitor junto, sem lenço nem documento. Ernest Hemingway constrói com clareza quase infantil. Philip Roth entrega em poucas linhas as agonias de seus protagonistas. Escritores latinos, como Gabriel Garcia Marquez e Roberto Bolaño, iniciam normalmente com reflexões do personagem ou do ambiente em que estão. O leitor deve permanecer por algum tempo lendo até se encontrar - depois, não há mais como fugir.
É notável como, de acordo com Prose, os autores dão importância a isso. Tanto os por ela citados como os escolhidos ao acaso. Jack Kerouac, escritor cerne da geração Beat, logo de cara joga o leitor no meio de suas andanças e peregrinações sem roteiro que, desenroladas, não acabam necessariamente com o fim do livro. Sem rodeios, Kerouac quer mesmo transmitir certa falta de noção em suas grandes viagens, e faz isso bela e energicamente, levando o leitor junto, sem lenço nem documento. Ernest Hemingway constrói com clareza quase infantil. Philip Roth entrega em poucas linhas as agonias de seus protagonistas. Escritores latinos, como Gabriel Garcia Marquez e Roberto Bolaño, iniciam normalmente com reflexões do personagem ou do ambiente em que estão. O leitor deve permanecer por algum tempo lendo até se encontrar - depois, não há mais como fugir.
© Ernest Hemingway em sua casa em Cuba, 1953 (Wikicommons).
Com Kafka, segundo Prose, tem-se muito a aprender. Foi um exímio
construtor de frases; um mestre das linhas de abertura – e das frases ao
longo de todas suas obras. Buscava as doses certas nos momentos certos,
logo, a frase primordial tornava-se de extrema importância para a
sincronia do que viria a seguir.
© Kafka, estátua em Praga, (Wikicommons).
Em A Metamorfose, obra largamente lida e estudada em todo o
mundo , Kafka abre com “certa manhã, ao despertar de sonhos
intranqüilos, Gregor Samsa encontra-se em sua cama metamorfoseado num
inseto monstruoso.” Tão vastos são conteúdo e importância presentes
apenas nessas poucas palavras que toda uma análise poderia ser
construída sobre a curta introdução. Uma incógnita tão grande quanto a
traição de Capitu na obra de Machado de Assis (outro escultor de frases)
são as questões que se levantam em torno de Gregor Samsa: quem era, por
que se tornara um inseto monstruoso e ainda que inseto monstruoso era
esse. Atravessada a primeira frase e logo a primeira página, o caminho é
um só.
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