segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O GRAFITE DE BURCA DO AFEGANISTÃO


por  


Quando você olha a imagem de uma mulher de burca grafitando as paredes do Afeganistão, qual a sensação que você tem?
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malina.jpg Malina Suliman
As grafiteiras Malina Suliman, 23 anos, e Shamsia Hassani, 24 anos, são realmente dois pontos fora da curva. Em um país que está em guerra, de cultura bem repressora e com uma interpretação religiosa extremista, estas duas jovens fizeram o mundo escuta-las através de sua arte.
sham1.jpg Shamsia Hassani
Porque, além de grafitar, estas duas garotas ainda utilizam-se da arte para criticar a situação presente do Afeganistão e demonstrar de que forma opressora as mulheres vivem por lá. Lendo diversas entrevistas que elas deram, é muito claro ver que as jovens não desejam ser revolucionárias ou extremistas, elas tem um pensamento muito mais brando com relação a isto, elas querem pelo menos o mínimo, o básico. O lema da Shamsia, por exemplo, é curto e muito expressivo, e explica bem o que eu disse acima:
“A liberdade não é remover a burca, é ter paz.”
sham2.jpg Shamsia Hassani
A sociedade na qual vivemos pouco compreende a cultura muçulmana, e se acostumou a adjetivar o Afeganistão apenas com palavras que nos lembram de guerra, violência e terrorismo. Esta mesma sociedade então recebe através destas duas jovens afegãs uma mensagem que demonstra claramente que elas estão lá, que elas pensam e tem uma vida igual a qualquer outra pessoa. Elas esperam ser ouvidas. Elas querem ter paz.
É difícil mensurar em um mero texto a coragem, ousadia e determinação que ambas tiveram, mas eu acho que isto vai da reflexão de cada pessoa que verá as imagens que aqui estão, as vezes é complicado encontrar palavras para dimensionar uma imagem.
malina2reu.jpg Malina Suliman - foto © Ahmet Nadeem / REUTERS
Malina Suliman já recebeu diversas ameaças do Taliban, e o seu pai já foi agredido na rua. Shamsia Hassani atualmente produz em lugares fechados, pois grupos extremistas já jogaram pedras e ácido em mulheres nas ruas de Cabul. Mesmo assim ambas continuam grafitando.
shamsia3.jpg Shamsia Hassani - Foto retirada da Pagina Oficial do Facebook.
Se um dia você tentar explicar para alguém o porquê a arte é importante, mostre a imagem destas meninas de burca grafitando no Afeganistão e pergunta para ela o que ela vê. Seria somente uma pessoa pintando um muro? uma arruaceira?
malina4.jpg Malina Suliman - Foto retirada da Pagina Oficial do Facebook.
Caso tenha ficado interessado, elas têm paginas no facebook:

O reverso da "obra de arte": Artista Gay russo cria foto em resposta a Revista Garage

Categoria: Gêneros em Notícias


o-BLACK-WOMAN-CHAIR-570
Um artista gay da Russia postou uma foto invertida em resposta a controversa foto da revista Garage, onde uma mulher está sentada sobre uma cadeira-mulher-negra
A foto que ofendeu muitas pessoas começou a circular na segunda-feira dia 20 de janeiro, o dia em que é comemorado o dia de Martin Luther King Jr.. Zhukova se desculpou e chamou a decisão de aparecer com uma peça tão racialmente insensível de arte " lamentável ". Ela também argumentou que a intenção real do designer Bjarne Melgaard foi criar "uma discussão sobre gênero e políticas raciais . "
Mas , para alguns as desculpas não foram suficiente.
Alexander Kargaltsev , um fotógrafo e ativista gay da cidade de Nova Iorque, decidiu encenar sua própria resposta ao retrato " ultrajante e de mau gosto ", com uma imagem de um homem negro nu sentado sobre um homem branco nu, cujas pernas são dobradas até criar uma "cadeira ".
Kargaltsev disse ao The Huffington Post em um comunicado enviado por email sexta-feira : " Eu fui forçado a abandonar a Rússia por causa da discriminação que experimentei como um gay". "Estou desapontado que a tradição de xenofobia é tão forte no meu país que tal imagem de Ms. Zhukova pode aparecer como se fosse normal e banal . O Povo russo  parecem não perceber quando ofendem outras por princípio da cor, nacionalidade, orientação sexual e assim por diante . "
Kargaltsev explicou a ideia por trás de sua foto para o Out There Magazine, dizendo :
“Me entristece profundamente ver que o racismo está sendo exaltado e, assim, fez não só aceitável, mas na moda utilizado por nomes como o de Ms. Zhukova .
 Minha própria composição reverte a injustiça visual e ofensa perpetrada por esse editorial e de uma forma restaura a igualdade de gêneros , raças e orientações sexuais . Infelizmente, eu entendo muito bem que o meu trabalho vai ser visto pela maioria dos russos como provocativos e inapropriados, enquanto a imagem repulsiva publicada exatamente no dia de Martin Luther King dificilmente fará qualquer um de lá mudar a forma de pensar.


Foto racista publicada por revista russa que gerou a polêmica


Disponivel em:
http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questoes-de-genero/265-generos-em-noticias/22960-o-reverso-da-obra-de-arte-artista-gay-russo-cria-foto-em-resposta-a-revista-garage

sábado, 25 de janeiro de 2014

Um pouco sobre HELIO OITICICA (Artes Visuais)

 Considero indispensáel para quem admira arte, conhecer um pouco de Hélio Oiticica:

 
“A beleza, o pecado, a revolta, o amor dão a arte desse rapaz um acento novo na arte brasileira. Não adiantam admoestações morais. Se querem antecedentes, talvez este seja um: Hélio é neto de anarquista.” (Mário Pedrosa, no artigo “Arte ambiental, arte pós-moderna, Helio Oiticica”. In: Correio da Manhã, 26/06/1966)


Oiticia é um dos mais revolucionários artistas de seu tempo. Seus trabalhos foram experimentais ao longo de toda sua vida, rompendo com o conceito de obra de arte, para a relação de proposta entre artista e público. É reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes artistas da arte contemporânea.

Como seu pai era contra o sistema educacional, oiticia estudou com a mãe, no Rio de Janeiro, até os dez anos de idade. Em 1947, transferiu-se para Washington, nos EUA, onde estudou até 1950. De volta ao Brasil, começou a estudar artes com Ivan Serpa, em 1954, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Neste ano, o Grupo Frente fazia sua primeira exposição. O contato com Serpa fez oiticia aderir ao grupo a partir de 1955, sendo seu membro mais jovem. Em 1957/58, fez seus Metaesquemas, quadros em que a composição é ditada pelo ideal concreto e pela gestalt.

Participou da I Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956/57, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Foi um dos fundadores, em 1959, do Grupo Neoconcreto. oiticia é um dos fundadores do grupo, rompendo neste período com a estética concreta. Suas obras passaram a se preocupar com o corpo em ações diretas nas obras de arte, lutando contra a atitude contemplativa por parte do espectador.

Para isso, era necessário explodir o espaço bidimensional do quadro e invadir o ambiente. Assim, em 1959 fez seus primeiros Relevos Tridimensionais. Depois, pintou uma série de quadros em ambas as faces e os distribuiu no espaço, para que o público caminhasse entre eles. Era um caminhar entre quadros de cor, uma visão dinâmica e espacial da cor.

Sua obra passou a propor cada vez mais relações sensórias e corpóreas por parte do espectador, gerando uma nova percepção de obra de arte, segundo as reflexões fenomenológicas de Merleau-Ponty. Na II Exposição de Arte Neoconcreta, em 1961, no MAM-SP, propôs jardins, onde o público tocava em areia natural, e entrava em um ambiente de cor.

Se nos Metaesquemas a cor já aparecia, mas estava presa à forma, nos Bólides, de 1962, ela surgia pura, dentro de recipientes de vidro que podiam ser manipulados. Em 1964, fez seus primeiros Parangolés, em que o público podia vestir a cor, dançar e ter a experiência da cor em seu próprio corpo. É o auge da dessacralização da obra de arte, e da aproximação entre arte e vida - a arte como extensão do homem. Os trabalhos deixam de ser “obras” para serem propostas abertas ao público, e por ele completadas. Mário Pedrosa, para o qual oiticia dedicou um de seus Parangolés, acreditava que esta nova forma de arte era revolucionária, pois se preocupava com o coletivo, com o surgimento de uma nova percepção, de onde surgiria uma nova sociedade.
Oiticia, a partir de 1964, passou a viver no morro da Escola de Samba da Mangueira, e levou o samba e a favela para o museu, um ano depois, em uma manifestação repleta de Parangolés (expostos neste momento pela primeira vez), na inauguração da exposição Opinião 65, no MAM-RJ. Este ato foi importantíssimo, pois era a tentativa de real democratização das artes brasileiras, com a união da cultura popular com a erudita. Em uma época em que se entrava de terno e gravata em um museu, oiticia foi expulso do interior do MAM-RJ durante a manifestação. “Foi durante a iniciação ao samba, que o artista passou da experiência visual, em sua pureza, para uma experiência do tato, do movimento, da fruição sensual dos materiais, em que o corpo inteiro, antes resumido na aristocracia distante do visual, entra como fonte total da sensorialidade” (Mário Pedrosa, no artigo “Arte ambiental, arte pós-moderna, Helio Oiticica”. In: Correio da Manhã, 26/06/1966).
A favela foi motivo de diversas obras posteriores, como Penetráveis, Ninho e Éden. Era uma crítica ao excessivo racionalismo que existia na arquitetura moderna, que destruía manifestações culturais regionais. A favela é um problema social que não deve ser tratada como uma opção estética. Mas a vivência na favela por oiticia foi uma tentativa de mostrar que não há diferença entre cultura popular e erudita, segundo seus princípios de democratização das artes. Entre 1967/70, participou do movimento da Tropicália, fazendo o cenário de shows e capas de discos; realizou manifestações de cunho político, com a obra Homenagem à Cara de Cavalo, com a frase “Seja Marginal, Seja Herói”; e atuou no filme O Câncer, de Glauber Rocha. Durante a década de setenta, viveu em Nova Iorque, como bolsista da Fundação Guggenheim, retornando ao Brasil em 1978. Neste ano, seus Parangolés foram pela primeira vez aceitos, pesquisados e expostos por um museu (em 1965, foram rejeitados pelo MAM-RJ), na coletiva Objeto na Arte - Brasil Anos 60, realizada no Museu de Arte da FAAP, em São Paulo. Faleceu em 1980, no Rio de Janeiro, sendo criado no ano seguinte o Projeto Helio Oiticica.
  

Disponivel em:
http://universosdarte.blogspot.com.br/2011/06/helio-oiticica.html

A ARTE NÃO É IMPORTANTE?

por Paulo Sacaldassy 


É sempre engraçada a reação das pessoas quando você diz que faz arte, a primeira pergunta que lhe fazem é: – E você trabalha com o quê? Ora, fazer arte é o meu trabalho! Parece mentira, mas se você não é famoso, as pessoas custam a acreditar que a arte seja muito mais do que um simples “hobby”. É difícil explicar que fazer arte também é importante e é um trabalho.

Mesmo que você exerça uma outra atividade para suprir suas necessidades, visto que, pelo fato de circunstâncias alheias à sua vontade, sobreviver de arte ainda não lhe seja possível e nem possibilite uma dedicação plena de sua parte, você sabe o quanto a arte é importante, quantas privações ela te submete, tudo por você acreditar que pode viver de arte e exercer esse ofício como um trabalho.

Mas as pessoas… bem, as pessoas, sentadas em suas zonas de conforto, preocupadas apenas em nascer e morrer, se deliciam com a arte, mas não conseguem enxergar a importância que a arte tem, até mesmo para suas vidas, que se beneficiam de uma forma ou de outra com o que a arte lhes tem a oferecer, pois a arte está ali, no filme, na novela, na peça de teatro. É tão importante para vida delas que elas nem percebem o quanto.

Pois no inconsciente dessas pessoas, a arte é algo que alguém faz apenas como diversão própria e para o próximo e não como um trabalho honesto que lhes dê o sustento de vida. A idéia de trabalho industrial incutida na sociedade, onde jornada de trabalho diária, relógio de ponto, terno e gravata, macacão e ferramentas, que formam a imagem do que seja um trabalhador, contribui, e muito, para o quase desdém pelo trabalho que o artista faz.

Mal sabem essas pessoas, que os trabalhos artísticos demandam uma rotina de trabalho, disciplina, organização e longas jornadas, quase sempre exaustivas, de trabalho, seja escrevendo um texto, seja ensaiando uma peça, seja gravando um filme ou novela. Fazer arte não é diversão, é trabalho e trabalho muito duro. O fato de sua execução ser efetuada de forma e ser feita fora de uma sala de escritório, não o torna menos importante.

A arte também é essencial, tal e qual a quaisquer outras profissões, só que a arte conta com um diferencial positivo, que outras profissões não contam: a arte é um trabalho que alguém faz para oferecer ao outro, um pouco de diversão, fazer com que o dia-a-dia de todos seja mais leve e que as rotinas das pessoas preocupadas apenas em nascer e morrer, receba um pouco de sopro de vida. A arte é, ou não é importante?
Disponivel em:
http://ciaatemporal.blogspot.com.br/2013/11/a-arte-nao-e-importante.html
Colaborou: Poucas Palavras de Paulo Sacaldassy; Foto: Ryan Stewart, Corinne Van Ryck de Groot e Arle Michel em cena do espetáculo "Torn"

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O pôr do sol sobre Lajes-RN resignificado no olhar artistico de Everton Fernandez

Imagens : Everton Fernandez
Texto: Fábio Fernandes
  
À tempos sabe-se que a fotografia não busca somente o mero registro do espaço-tempo, mas tambem a busca dialética do meio com o interlocutor, no caso o fotografo. O click da maquina captura não somente a  co-exisencia do espaço e o fato em destaque mas permite a outros olhos receptivos o ângulo compartilhado do fotografo.    
 
 O fenômeno em destaque é o pôr do sol, uma ação sutil que revela beleza universal, é necessário o uso de determinada técnica na captura da imagem e a precisão dialógica com o enquadramento do objeto artistico.


 A edição da fotografia de forma alguma desmerece sua pureza, uma vez que de forma levemente utópica se sub-existe na foto-captura a visão pessoal do artista em meio a poética imagética.
 O olhar centrifugado do artista interrelaciona-se com suas divagações e possiveis conflitos vitais...
 O espaço ocupado, divide sua existência natural com outros componentes humanizados...

Faz-se quão cabível a expansão geográfica dialogando com a concretude fenomenológica natural...
 
 Por fim, a cadência primitiva se revela de forma monotona, causticante, cansativa, repetitiva, redundante, determinante, insistente e outras reticencias vitais...


Conheça mais sobre Everton Fernandez em:
https://www.facebook.com/offfernandez



A DITADURA DA INTELIGÊNCIA

Por Paola Rodrigues
Os novos intelectuais se acumulam nos corredores das universidades, nos cantos do Facebook e nas livrarias em busca do novo título profundo. A questão é, eles exercem a reflexão ou apenas provam um ponto?
lorenzobusato_alberteinstein.jpgAlbert Einstein sendo culto.
Não acredito no poder de citações para provar um ponto ou concluir um pensamento, acredito em citações quando alguém também refletiu sobre algo e você concordou ou encontrou um elo com o que pretende naquilo. Então, acho válido citar Kant no princípio deste texto para que você, leitor, entenda do que estou a falar: "Erudição não cura estupidez e nem garante que a pessoa tenha adquirido autonomia intelectual".
Agora como tenho por hábito iniciar tudo com uma boa e velha história, dou inicio a um relato que marcou os mares do que seria minha ambição profissional.
Quando tinha meus 15 anos de idade, ganhei de presente da minha mãe os livros da saga Crepúsculo. Na época era o que estava em alta e como ela sabia que gostava de ler, me deu de presente e coincidiu que nessa mesma época eu não usava muito o computador, ainda não tinha um - algo que viria a ganhar exatamente um ano depois - e eu li, adorei, li de novo. Fui à biblioteca e peguei alguns livros de romance, Nora Roberts, coisas assim.
Até então eu tinha uma ótima lista de livros, de poesia a bibliografias, não fazia distinção de nada, lia porque amava ler e assim continuei, calhou que alguns títulos seriam a Bíblia para os intelectuais atuais. Chegou meu aniversário de 16 anos e eu ganhei um computador, daqueles mais antigos, o famoso PC com um gabinete barulhento e foi como dar doce para uma criança. Fiquei horas naquilo, no falecido MSN, fiz um Orkut na época, li mais um monte de livros e foi lá que terminei meu primeiro Proust, de quem iria virar fã.
crepusculo livro.jpgCapa do primeiro livro da Saga Crepúsculo.
Num dos fóruns que participava havia um tópico "Coloque aqui seus livros preferidos" e eu tragicamente coloquei Crepúsculo na minha lista e minha vida social na internet naquele dia chegou ao fim. Chamaram-me de muitas coisas: manipulada, burra, péssimo gosto para literatura e uma amiga me falou que não esperava isso de mim, que ela achou que eu era diferente daquele povo sem cultura. Eu fiquei arrasada naquela altura, eu não conhecia uma disputa velha e muito repercutida na internet. Que é a guerra pelo mais esperto, inteligente, intelectual e culto.
O ponto não é esperar uma sociedade mais informada, questionadora e participante, o ponto é apenas provar que é melhor que o outro, aquele que apenas não está inserido no seu patamar de "inteligência".
O que me fez lembrar desse ocorrido e escrever este texto foi uma discussão descontraída sobre o tema na mesa de jantar e a recente leitura de um artigo da Veja de 2001, onde é discutido o sucesso das pessoas inteligentes, como elas não precisam de muito mais do que seus cérebros super potentes, tudo isso sendo jogado pelo Presidente da Mensa Brasil, um clube internacional para pessoas com um QI "superior ao normal".
No artigo uma tal de Cathi Cohen afirma que "As pesquisas têm demonstrado que as pessoas com menor quociente de inteligência tendem a ter pior performance na escola, carreiras profissionais problemáticas, laços familiares frágeis e, por tudo isso, a apresentar mais freqüentemente quadros depressivos". A informação se modificou atualmente, com pesquisas mais bem direcionadas, mas infelizmente muitos ainda repetem tal coisa.
Ainda há um trecho que preciso colocar aqui antes de trabalhar a ideia "O roqueiro Roger Rocha Moreira, do grupo Ultraje a rigor, tem 44 anos e QI 172 - altíssimo. O QI médio fica entre 90 e 110. Ele está em uma das fotos que ilustram a abertura desta reportagem. Roger se alfabetizou sozinho aos 3 anos de idade, pulou a 4a série primária porque já sabia tudo que estava sendo ensinado e chegou ao 2o ano do curso de arquitetura antes de decidir seguir carreira musical. 'Sempre consegui tudo que quis', ele diz."
Agora, podemos voltar ao ponto de partida, onde temos uma sociedade que nos exige sucesso também. Temos que ter Doutorado, carro, casa, relações estáveis, amigos fiéis e um cachorro de raça, também devemos gostar de viajar, beber vinho ou cerveja importada, não acreditar em Deus e claro, ler livros maravilhosos, de autores consagrados. Temos que ser inteligentes, porque inteligência é isso.
Roger conseguiu tudo que quis porque tem um QI de 172, seus riscos de ter depressão são baixos. Eu que li Crepúsculo não devia nem estar aqui escrevendo, devia estar morta, tendo me jogado do décimo primeiro andar depois de perceber tamanho vazio na vida.
O caso a ser discutido não é sobre a massificação da literatura ou estudos avançados sobre a felicidade em pessoas extremamente inteligentes, é como nós, sociedade atuante e infelizmente agora usuários de Facebook, estamos dividindo as pessoas em três grupos distintos e quase fazendo um bullying com elas: os cultos, os belos e os malditos.
Eu mesma já fiz isso em certa altura com pessoas do meu meio - e isso é uma exemplificação do que é burrice, fazer com o outro o que fizeram com você -, apontei a leitura precária delas, comentei sobre a alienação e falta de opinião política quando nem eu tinha conhecimento sobre política. Citei 30 autores diferentes para comprovar um ponto, ostentei minha literatura refinada e me olhei no espelho. O que estava fazendo com meu cérebro afinal?
Acredito que não sou um caso isolado, conheço pessoas ao meu lado, vejo elas todos os dias, aquelas que apontam a ignorância alheia quando definitivamente não sabem nada. Andam pelos corredores carregando no braço livros de Sartre, Foucault, Saramago como se fosse uma Bíblia, proclamam citações como se fossem verdades absolutas e apontam o dedo para tudo que não englobar essa roda de burrice funcional. É a autoafirmação: eu sou, eu consigo, eu quero, eu tenho potencial e facilidade, eu venço porque sou mais rápido no Google.
41-thumb-600x600-54646.jpgSe você sempre tenta parecer inteligente, vai acabar parecendo estúpido - Alex Noriega. Você pode ver mais trabalhos de Alex aqui.
Inteligência é algo muito mais complexo que 30 livros europeus e a palestra do seu professor de Sociologia. O senhor que me vende alfaces todos os dias tem uma capacidade superior de refletir, constatar e compreender, isso faz dele inteligente. Quem tem muito conhecimento e tenha agregado ele por leitura, TV, filmes, discussões, aulas e debates não é superior ao Seu Francisco, só diferente.
Batalhamos por informação na tentativa de demonstrar inteligência e nisso mostramos descaradamente a face da verdade, de que não há reflexão, compreensão, embasamento, apenas uma superficialidade desastrosa que nos impõe saber tudo, não importa a idade, momento, cultura ou expectativa. Isso é burrice.
O verdadeiro erro aqui mostrado não é a discussão sobre QI, ou se você consegue terminar a revista de Sudoku no nível mais difícil - é verdade que ler livros mais reflexivos faz bem e eu aconselho, não vou contra o pesquisador que me falar qualquer coisa desse gênero - , o que me incomoda como atacada e atacante é que nos exigem saber sem ensinar, conhecer sem apresentar e evolução sem paciência.
Falam que o brasileiro é burro, é preguiçoso, que não luta por seus direitos e é viciado em novela, mas o europeu, este é maravilhoso, faz passeatas, luta por seus direitos e há ainda os ingleses, que deixam de fazer sexo para ler ( ! ), devemos ser assim, temos que cobrar isso de nosso povo. Europa tem quantos anos de civilização? Como foi sua colonização? Quantas Guerras mesmo? Ah sim, claro, faz todo sentido, nós que temos 513 anos, uma colonização que até hoje faz com que nosso povo nade na merda, onde mais da metade da população trabalha mais de 40 horas semanais para sustentar a família e você, querido universitário que sua preocupação maior é terminar aquele livro de pompa vem me falar que este povo é burro.
Até onde eu sei estudamos, batalhamos e tentamos mudar essa realidade triste sendo mais conscientes, aproveitando da alegria de poder colocar o máximo de empenho em pesquisa para que um dia nosso país se liberte das garras da suposta alienação. Até onde eu sei faculdade ou conhecimento nenhum te dá direito de rebaixar um povo que só é mais vez: diferente, numa realidade diferente, numa expectativa diferente.
tumblr_m97pejoF1d1qzmspco1_500.jpgVeja mais da genialidade deste artista no Laboratório de Remédios.
Isso me fez crer que eu estudo, eu leio, eu pesquiso, eu assumo que nada sei e que quero compreender mais para fazer um país melhor. Quando levantar do sofá e for para as ruas, quero gritar até minha garganta doer por algo que entendo e acredito. Não quero fazer isso porque é legal, porque a galera está lá. Porque o gigante não acordou, porque eu acordei.
Da mesma forma que em minha lista de leitura até hoje contém Crepúsculo, como ele também está na minha prateleira e se alguém me perguntar, darei uma crítica verdadeira sobre. Você que nunca leu, deveria ler, acredito que pior que vampiros que brilham, é um individuo que não usa sua inteligência, isso é mais ofensivo.


PAOLA RODRIGUES

Concorda com Salinger, todos batem palmas pelas razões erradas.
Saiba como escrever na obvious.

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'Febre' de aplauso de pé incomoda artistas e críticos de teatro NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Por  NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO
 
A Europa era exceção, até poucos anos atrás. Mas também por lá o crítico inglês Michael Billington lamentou que esteja chegando o "hábito sujo americano" de aplaudir de pé no final da peça. Qualquer peça.
O crítico americano Ben Brantley concorda e até lançou um apelo público, no "New York Times", "pela volta do aplauso sentado". Aplaudir de pé, afirma, "virou um gesto social automático", sem sentido.
No Brasil, o diretor Antunes Filho e a atriz Nydia Lícia, com carreiras iniciadas há mais de meio século no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), atestam que "essa mania de levantar sempre", como ela descreve, é recente.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Público aplaude monólogo 'A Vida Sexual da Mulher Feia
Público aplaude monólogo 'A Vida Sexual da Mulher Feia'
Antunes arrisca que o hábito se disseminou a partir dos anos 90. "Antes era mais seco", diz. "Agora é um touro bravo, vai que vai. Agora é absolutamente nada."
"Antes era um gesto estrondoso para o ator", relata Nydia, citando, entre os raros aplausos de pé no TBC, "Seis Personagens em Busca de um Autor" (1951), com Sergio Cardoso, Cacilda Becker, Paulo Autran e Cleyde Yáconis.
"Era excepcional", diz. "Agora levantam, assobiam, gritam e fica por isso mesmo. Você não tem mais medida, não sabe até que ponto agradou. O ator fica mimado."
Com a presença crescente de celebridades do cinema e da TV no palco, tanto aqui como no exterior, o fenômeno avançou para o meio das apresentações, para a entrada em cena. "A sugestão é, no caso de estrelas menos veneráveis, como Julia Roberts, 'bom para você, você é famosa'", critica Brantley.
PANDEMIA
Ele reconhece que aplaudir de pé é um "vírus" que pode ter tido sua origem na Broadway, seguindo depois para Europa e outros junto com as franquias dos musicais nova-iorquinos.
Cláudio Botelho, que ao lado de Charles Möeller ajudou a estabelecer os musicais no Brasil, também questiona o fenômeno, mas acrescentando ser mais acintoso por aqui —onde programas de auditório teriam instituído, segundo ele, que "quem quer que apareça é aplaudido".
Lamenta, sobretudo, que "não tem mais diferença: aplaudem de pé tanto Marília Pêra como qualquer grupo jovem". Citando também Bibi Ferreira e Fernanda Montenegro, cobra: "O que você vai dar como reconhecimento às grandes divas?".
São muitas as hipóteses para a "febre", segundo o "NYT": espectadores aplaudem para justificar o ingresso caro; por serem turistas, não habituados ao teatro; pelo alívio físico de se levantar; até para chegar antes à saída, nas plateias lotadas.
Antunes acrescenta um fenômeno local relativamente novo e semelhante àquele dos turistas na Broadway: "A classe média aumentou. É uma coisa boa, mas eles ainda não têm base. Ir ao teatro já é uma vitória social".
Saulo Vasconcelos, protagonista de musicais como "O Fantasma da Ópera" no Brasil e no exterior, soma ainda duas razões específicas, no caso de São Paulo. "As pessoas aplaudem já se levantando para ir embora, porque o estacionamento é um inferno. E também porque o espectador daqui é gentil, quer mostrar seu carinho."
AUTOENGANO
Ron Daniels, que começou como ator nos anos 60 no Teatro Oficina e a partir dos anos 70 se estabeleceu como encenador em companhias como a Royal Shakespeare Company e o American Repertory Theater, acredita que o problema é maior nos Estados Unidos e no Brasil.
"Em Nova York eles sempre se levantam. Na Inglaterra, só em musical, Shakespeare não", diz ele. "Eu detesto esses aplausos, o espetáculo perde o valor. Mas, quando é merecido, a 'standing ovation' [aclamação de pé] é maravilhosa."
Para Daniels, o fenômeno "é muito esquisito: a plateia se congratula a si mesma". Michael Billington, que é crítico do londrino "Guardian", concorda que a febre do aplauso de pé surgiu com o público "tentando enganar a si mesmo", sugerindo que a cura teria de partir dele.
 
Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/01/1401502-febre-de-aplauso-de-pe-incomoda-artistas-e-criticos-de-teatro.shtml