"A obra é o possível e o provável, nunca é o certo. A estética vem sempre primeiro; a obra de arte não apresenta a mensagem de um conhecimento, desenvolvido exteriormente a si, por imitação ou intuição, independentemente da vontade do artista (...) O que o artista fixa, não é o que ele viu ou apreendeu; é o que ele procura e o que ele quer revelar aos outros. (FRANCASTEL, 1998)
Joel Peter Witkin
Nascido em 1939, na cidade de Nova York, EUA, Witkin começou a se interessar por fotografia aos cinco anos de idade, por influência do Pai. Desde cedo, o pai lhe mostrava imagens da LIFE, LOOK, Daily Mirror, de modo a incentivá-lo ao trabalho de fotógrafo e a concretizar uma experiência fotográfica. Algumas experiências o marcaram e o influenciaram em sua maneira de encarar a vida, servindo de inspiração para sua obra fotográfica e são descritas em seu livro, The Bone House. Filho de Pai Judeu e Mãe Católica, Witkin estudou profundamente a arte religiosa, com ênfase em Giotto e em simbolistas como Gustav Klimt e Alfred Kubin. Além destes, importantes autores como Picasso, Diego Velasquéz, Bosh, Leonardo da Vinci, Goya e Miró fazem parte de suas referências e são descritos claramente em suas imagens.
Uma das primeiras experiências relatadas é que, ainda pequeno, presenciou um grave acidente de carro em frente à sua casa, recordando a imagem de uma garota decapitada e sua cabeça rolando até os seus pés. Conta que o que mais lhe chamou a atenção foi a impressão obtida a partir dos olhos já sem vida da garota. Logo após os estudos do Ginásio, Witkin conseguiu um trabalho que lhe proporcionou os primeiros conhecimentos sobre as técnicas fotográficas, PB e em Cor. Em 1961, alista-se ao serviço militar, servindo como sargento até 1964, onde foi incumbido de documentar fotograficamente as mortes acidentais ocorridas em treinamentos militares. “Cheguei a me endurecer de tal forma em relação à morte que me alistei como fotógrafo para ir ao Vietnã. Depois de receber treinamento especial, enquanto esperava ser chamado para o front, tentei me suicidar”.
Ao sair do serviço militar, retorna a Nova York e trabalhou como fotógrafo profissional atuando como freelancer, assistente e realiza fotografias comerciais e na área de medicina. Após receber o prêmio BFA da Cooper Union, conseguiu uma bolsa de estudos em Poesia na Universidade da Columbia e estudou escultura. Um pouco mais tarde, em 1974, recebeu bolsa de estudos CAP em Fotografia no New York State Council on the Arts. Realizou graduação e pós-graduação na Universidade do Novo México e ganhou diversas bolsas de estudos posteriormente: Fundação Ford – 1977; 1982, 1984 e 1986 – Bolsa NEA; MFA- Universidade do Novo México – 1986; International Center of Photography Awards e Distinguished Alumni Citation da Cooper Union; Prêmio Chevalier des Arts et de Lettres – França – 1990; Em 1993, o American Center in Paris em parceria com o NEA possibilitaram-no criar um programa permanente de Fotografia na França, que posteriormente foi expandido para outros países como a Itália, Eslováquia e Reino Unido. Suas obras fazem parte de acervos permanentes de museus, como a Bibliothèque Nationale – Paris, San Francisco MOMA, o Amsterdam’s Stedelijk Museus, MOMA New York, dentre outros.
Cada imagem é realizada de maneira única, com laborioso método de execução. Inicia-se com um esboço feito em papel. A partir disso, modelos e objetos de cena são procurados e meticulosamente é realizada uma sessão fotográfica em estúdio, com árdua etapa de pós produção na revelação dos negativos, que são maltratados com agentes químicos e ações físicas, dando acabamento final. Devido aos tais detalhes, produzia em média, de 10 a 12 imagens por ano.
Pelo tema e composição empregados na construção de suas imagens, Witkin adentra o campo da imagem simbólica, subjetiva, impondo ao receptor a vontade de decifrar a imagem, dentro de um campo de interpretações que vai desde a representação do mundo de forma indireta, ao falso caráter das imagens técnicas, uma vez que a fotografia ali exposta foi concebida enquanto idéia, se realizou mediante um esforço de dedicação humana e não automática e ainda, é um símbolo que pode ser decifrada. Assim, Witkin, ao realizar suas imagens, impõe-se como autor aos olhos do receptor.
Segundo Nietzsche “Quando você olha muito tempo o abismo, o abismo te encara de volta”. Essa citação talvez consiga resumir a obra de Witkin como um todo. Apesar de inovar e produzir imagens únicas dentro de um contexto atual e pluralista, Witkin aborda temas que manifestam-se recorrentemente nas artes desde sua existência, morte, religião, sexo, padrões estéticos. O fotógrafo faz uma leitura crítica da beleza artificial e padronizada, mostrando o grotesco nos tempos modernos, sempre utilizando como referências a pintura e a escultura clássica.
Witkin criou uma forma de linguagem inovadora e diferente, que ao mesmo tempo prende e espanta nossos olhos. O artista ganhou o mundo das artes no contexto moderno fazendo sua interpretação da sociedade, dissolvendo limites através do surrealismo fotográfico. Joel Peter Witkin apresenta-nos sob perspectiva singular uma poética inovadora, distante do senso comum. É entre o depravado e o divino que encontra-se o artista. O que o diferencia de seus contemporâneos é a inquietação e o desejo de explorar aquilo que os outros tem medo. Ele desafia o lado negro, onde um vislumbre de luz é puramente autentico. Sua substancia é o maior mistério da humanidade, a questão fundamental da vida e da morte, suas análises são irrespondíveis como regra, mas possíveis de interpretações pessoais. Arte neste caso preenche as lacunas entre os sentidos e o intelecto, justificando então o porquê deste tipo de linguagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário