quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Do Barro ao Pote

- Rio de Janeiro - "A arte do povo é sempre uma fala, uma linguagem que o uso torna coletivo. O folclore são símbolos. Através dele as pessoas dizem o querem dizer. A mulher poteira que desenha flores no pote de barro, que queima no forno do fundo do quintal sabe disso. Potes servem para guardar água, mas flores no pote servem para guardar símbolos. Servem para guardar a memória de quem fez, de quem bebe a água e de quem, vendo as flores, lembra de onde veio". Carlos Rodrigues Brandão - " o que é o folclore".

Galeria Pé de Boi apresenta coleção de potes antigos- Até o dia 18 de agosto de 2011, a Galeria Pé de Boi, em Laranjeiras, apresenta uma coleção com mais de cem potes .As peças foram coletadas em casas e fazendas na parte central e sul da Bahia e Norte de Minas.

Segundo Ana Maria Chindler, proprietária da Galeria, a ideia é fazer com que as pessoas tenham acesso a peças que fazem parte das tradições do povo brasileiro. Muitos desses potes eram decorados com o barro branco-a tabatinga-formando arabescos ou bordados, mas a ação do tempo esmaeceu a decoração. As peças possuem formas variadas, alguns potes são bojudos, outros mais cilíndricos ou bastante arredondados, seguindo a tradição de cada centro produtor. Muitas vezes foram guardados no chão outras sobre o "trempe "- arco com três pés que serve de suporte.Essas formas de guardar deixaram suas marcas que foram agregadas as formas originais.

" É importante que se realce a textura que os potes adquiriram com o passar do tempo. Alguns ainda lisos como se tivessem sido recém-alisados com o coité, trabalhados com o sabugo de milho e saído do forno. Outros estão encarquilhados pela perda das camadas externas do barro polido formando uma nova textura. Todos lindos afirma, acrescentando esta é uma oportunidade para as pessoas verem a beleza das formas, dos desenhos semi apagados pela ação do tempo e das texturas que a cerâmica adquiriu pelo uso. Além de, é claro, fazer uma viagem a cultura popular do Brasil.

Toda região central, sul e noroeste da Bahia, assim como a do norte de Minas Gerais apresenta uma forte origem cultural africana mesclada com indígena. E é por isso que o uso da cerâmica é altamente diversificado em todo esse território. Mais especificamente, o uso dos potes, jarros, moringas, porrões, caborés, quartinhas são uma mostra da nossa riqueza cultural.

Ao longo do traçado dos rios, como o São Francisco ou o Jequitinhonha, por exemplo, se pode levantar a cartografia do pote. Os mercados e feiras são os locais onde o povo do pote mostra sua habilidade e onde o Brasil mostra sua cara. Nesses locais e ao longo das linhas sinuosas dos rios, percebemos que o pote é inimigo do PET, é antiquado, foge dos padrões do industrializado e do feito em serie.

Embora as formas sejam diversificadas, assim como a decoração e a identificação dos nomes, nossa cultura tem, no uso do pote, uma dos mais ricos costumes da arte popular ou folclórica. O pote é indígena e negro, é feminino, pois nasce de mãos femininas. É generoso, pois é o que oferece a água e a base da comida e tem na sua diversidade uma unidade que é a da beleza das formas.

Fonte: Portal Fator

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