quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Pequeno pônei - Por Michel Blanco

li esse artigo no Yahoo e achei o tema pertinente ao nosso blog.

Michel Blanco

Pônei, ursinho, cachorrinho… A publicidade, fada madrinha do hiperconsumismo, segue uma lógica infantilista. Parece ver o público como um grupo de escoteiros: um bobo vestido de criança e crianças vestidas de bobo. Duvida? Ligue a TV.

Criaturas fofas estão em comerciais de carros a cerveja, num estímulo de desejos pueris e narcisistas. Uma Terra do Nunca para uma geração inteira de aspirantes a Peter Pan. A fuga da realidade atenua os riscos inerentes a um e outro produto. Volante e álcool são coisas para gente grande; desnecessário lembrar não fossem os bichinhos falantes.

Mas o produto quase não vem ao caso, o objeto de venda é a marca e todo apelo simbólico que representa: prestígio, satisfação e beleza plenas. Pouco importa se o carrão está ao alcance do público, a marca deve ser um sonho de consumo. Se o telespectador for uma criança, está aberta a oportunidade para o melhor negócio: um pequeno que estabelece uma relação de afeto com uma marca é o consumidor fiel em potencial. É, pôneis malditos!

A infantilização do consumidor e a invenção de necessidades são o que dão a liga ao capitalismo contemporâneo, num caldo de hiperconsumismo. A conclusão é do cientista político Benjamin Barber, para quem vivemos a era dos “kidults” ou “criançultos”. É este sujeito, impulsivo, egoísta e pouco habituado a frustrações, a quem a publicidade exalta. O motorista responsável não é descolado o bastante para um comercial.

E daí? Junte-se ao discurso infantilizado a promessa de virilidade e emoções fortes no embalo de um motor possante que o estrago está feito. As montadoras e a propaganda não são, obviamente, os únicos responsáveis pelas mortes diárias no trânsito caótico das cidades brasileiras, mas sua parte no problema é inegável.

O impacto da fantasia hiperconsumista não está restrito a essa geração de adultos infantilizados; afeta nosso próprio juízo de cidadania. A identidade que se consolida é a do consumidor, para quem o Estado é reduzido a um insáciável órgão arrecadador a encarecer as compras e tolher liberdades. A própria política se tornou marketing, adverte Barber. Campanhas eleitorais mundo afora não o desmentem.

Daí para ideia de que só exercermos poder quando consumimos é um pulo. Essa mesma noção embala a moda do nariz de palhaço em protestos “cívicos” recentes: paguei e não recebi de acordo. Cômico se não fosse trágico o crescente número de patetas ao volante.


Fonte

http://colunistas.yahoo.net/posts/12880.html

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