sábado, 17 de novembro de 2012

Carta surda (Lid- Galvão)


 Por Lid Galvão

Sabe quando você sente a necessidade de permanecer calada(o), sendo que seu silêncio já perdura tanto que agora não consegue sequer convencer a si mesmo? Sempre fui meio equivocada, mas talvez não exista distinção entre a minha torre e a de Rapunzel. A não ser quando ela atrai alguém para salvá-la. Aí com o resto da picaretagem vocês estão acostumados. O certo é que não é difícil entrar em acordo com um beco sem saída. Conversando a gente se entende, é o que dizem. Agora se você vai ceder mais, ou menos, que a outra metade interessada, eu só tenho a dizer uma coisa: Todo mundo, alguma vez, já acordou como se tivesse morrido. Mas isso não impede você de ser um idiota bom(a) moço(a) por não querer revidar. Não estou dizendo pra ser um(a) mau perdedor(a), só acho que a justiça também pode ser injusta.


Faz dias, e sempre me parece que foi noite passada, não sei quem é Joana, mas ela estava no meu sonho dando uma de profetisa. Ela usava um vestido branco como que pra combinar com alguns fios de cabelo. Ela acertava todas, e na minha vez de fazer perguntas, optei primeiro por respostas que satisfizessem os ouvidos de gente alheia que estava prensente. Eu tinha uma nova pergunta, dessa vez pra mim. E Joana tinha os olhos azuis e soberanos rindo o tempo todo, humildemente, da minha subjetividade angustiada. Compreensiva e terna, como a jarra de suco que minha vó sempre guardava pra mim, Joana dizia que não tinha que ser o que eu achava realmente que tinha.

Francamente Joana, você fala como se eu não tivesse o que responder. Eu que às vezes não sei se rio porque tenho algo que me faz única, ou se me ponho a gastar meu orgulho em função de um desfarçado e desacreditado entusiasmo; Eu que sei que estou fazendo alguma coisa de errado comigo, mas que me falta descobrir o que é. Aliás, me falta uma resposta. Por que alguém se ocuparia em trazer alguém pra perto se não queria que ficasse?
Sabe o que me parece? Que Joana se sente incomodada com a pergunta. Provavelmente, anda formulando seus argumentos. Se bem que se ela for mesmo profetisa, vai saber que espero um reencontro. Talvez seja o mesmo que pedi para a àgua não correr sobre a terra, e o mesmo que dizer "não" duas vezes sem saber a tradução certa.  Lealdade, pra mim, nunca esteve no real sentido de sua etimologia. Se a leadade quisesse ser leal consigo mesma, adotaria como sobrenome - no mínimo - as palavras "imbecil" e "acovadada". Não é o mal que me frustra o crescer das unhas, ou esse bando de sílabas recalcadas; e sim o bem. Aquele que tende a imbuir-se orgulhosamente de branco. Cada pessoa tem um modo particular de invocar o sono, quando necessário. Algumas crianças precisam de luzes acesas. Eu, com poucas distinções, dessa aliança supersticiosa...



BLANCHETT, Lidiane. 24 de março de 2011.


Disponivel em:
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/3885573

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