por Luís Pereira
A cocaína, um presidente dos Estados Unidos em desgraça, as festas no “Studio 54”, a “caça” aos assassinos em série… mas também as liberdades, as atitudes, a música, os avanços tecnológicos. Não ficar à margem nem deixar-se integrar no “sistema” também se tornou posição, com os “anos 70”. Um tempo à base de escolhas e de forças nos gestos, num tom febril.
© Wikicommons, Maykel Herrera.
A ruptura
Talvez os “anos 70” tenham começado, na verdade, em 68, 69 ou até mesmo em 71. Os limites de tempo/espaço, em relação a acontecimentos históricos, não são rígidos. Os anos 60 terminaram com o “Maio de 68”, em Paris. Este poderá ter sido o marco histórico que, em si, foi uma ruptura e que acabou por expandir o espírito dessa mesma ruptura da qual foi símbolo. Será que esta década de 70 teve início, nesse caso, com uma greve estudantil, em universidades e escolas secundárias, que alastrou a outras camadas sociais, contra o governo gaulista? Fica a questão. A maioria dos insurrectos partilhavam ideias esquerdistas, comunistas e anarquistas, com o intuito de abanar os velhos costumes da sociedade e apelar aos princípios da educação, relacionada com o sexo e o prazer. Eis o início de algo.
© Wikicommons.
Simultaneamente, a “Primavera de Praga”, na antiga Checoslováquia, e as suas reformas políticas acompanharam o início dos “anos 70” antes de a década chegar oficialmente e, em Agosto de 1969, houve o “Woodstock Music & Art Fair”, o festival dos 3 dias de paz e música, durante o auge da guerra fria, com uma forte presença da cultura hippie. Os moradores locais opuseram-se mas, ainda assim, “Woodstock” aconteceu, na localidade rural de Bethel, Nova Iorque.
© Wikicommons, FaceMePLS.
© Wikicommons, Omasz.
O festival foi um marco para esta contracultura. Entusiasmou toda uma geração com sonhos e esperança no futuro da sociedade humana, mas sem esquecer maldades como a Guerra do Vietname, terminada em 1975, sob o mandato de Richard Nixon. A Guerra e o escândalo “Watergate” viriam a sujar toda a sua pintura.
A continuação
A ruptura foi lenta, mas foi feita. Os “anos 70” continuaram-na. Aqui, os “anos 70” começaram quando se perdeu "a inocência e a crença nos ícones e bandeiras dos anos 60” - na opinião de Fernanda Mayer, colaboradora do “Folha Online”. Ainda assim, nem toda a ruptura significou corte - houve também continuação. O feminismo, os direitos das minorias ou a luta contra o racismo subiram de tom, ininterruptamente, vindos das décadas transactas, com fortes marcas a médio prazo. A chegada do Homem à Lua, em 69, seria o impacto que abriria a porta para a missão a Marte, o computador pessoal, o videojogo e a popularização da televisão a cores.
© Wikicommons, Ward Brackett.
© Wikicommons, Nightflyer.
Continuaram manifestações, mais subtis e menos ingénuas, coloridas, à medida que a experimentação da estética hippie se generalizava, mas não só. A moda hippie, das calças à boca-de-sino, roupa unissexo ou mini-saia (lançada nos “anos 60”), alternou com uma onda disco, e com uma uma outra metálica e futurista, com David Bowie e ainda com a contracorrente “punk”.
O hedonismo dos festivais ao ar livre, alternativos, com flores, droga e manifestações de amor à mistura, começava a concorrer com o prazer em locais fechados, espaços de festa e de cocaína durante toda a noite, de sexo descomprometido, como só as discotecas podiam oferecer. O “Studio 54”, em Manhattan, não durou uma década mas tornou a fantasia em realidade, para alguns. O lado negro da noite, com os assassinos em série, florescia para caçar vítimas e vidas.
© Wikicommons, William Armstrong.
O Mito
O direito à liberdade e às alegrias simples da vida, ao som dos “Beatles” ou “Bee Gees”. Os desejos de uma ordem social hipócrita, pequeno-burguesa e injusta, substituída por uma nova, igualitária e mais verdadeira. A geração d' ”os 70’s”, que criou rupturas e continuou lutas, deixou-nos o mito do “faça você mesmo”, “seja você mesmo”, e do "constrói o mundo à tua imagem", fora do “sistema” e da sua margem. Tu és tu, simplesmente.
Talvez os “anos 70” não tenham terminado em 1979, nem tenham perdido a força do mito - levando, sim, a força da utopia.
© Wikicommons, Andreas Thum.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/06/anos_70_o_fim_da_inocencia.html#ixzz1xU3UN3Va
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