domingo, 30 de agosto de 2009

Aurora Numbora (Ato 1- Cena 4)

(Mãezona encontra-se com Leopoldo e acontece uma longa conversa a respeito de seus filhos)


MÃEZONA – Bom dia Seu Leopoldo,como se tem passado?

LEOPOLDO – Muito bem, obrigado!

MÃEZONA – Mas que tom de voz é esse que o senhor está usando pra falar comigo? parece até que fiz algo errado...

LEOPOLDO – Ah! agora vai me dizer que não lembra da safadeza que me fez passar na festa de são João de 82, quando me deixou esperando e foi dançar com o Tonhão? O que é que tu ta inventando?

MÃEZONA – Nada não Lêlêzinho, é que naquele dia você tava tão preocupado olhando pra rua que nem eu entendi o porquê daquelas “olhança” toda.

LEOPOLDO – Ah lembrei!

MÃEZONA – (sorri com um ar de falsidade) ainda bem!

LEOPOLDO – É que eu sou um “homi” muito ciumento , num sabe? Eu tava de “ôio” na minha finada esposinha ( benzem-se a e ambos falam) -“que Deus a tenha”! - Pra ver se nenhum outro macho ia roubar ela de mim, a bichinha era uma santa , um amor de pessoa, era capaz de se jogar na frente de uma carreta por amor a mim. Ah que saudade da minha cheirosa!

MÃEZONA – Ah! ta bem seu ingrato, eu que sempre te amei e você nem ligava pra mim,agora fica ai falando da finada como se ela fosse a rapadura de mel de abelha italiana.

LEOPOLDO - Mas que conversa é essa” muié”? se era você que nem queria saber de mim.
quando me via, parecia que tava vendo o cão.

MÃEZONA – Eu? (irônica) Você não se lembra de quando fui até sua casa, dar as boas vindas à sua filha Martinha no dia que a bixinha nasceu, que dois anos depois era a melhor amiguinha do meu filhinho Lucílinho , o menininho mais fofinho desse lugarzinho “muximba” .

LEOPOLDO – Só faltou o leite ninho pra rimar. Você não me engana cobra desdentada, me fale logo o que tu quer, pois tenho um monte de coisas pra providenciar

MÃEZONA – A única coisa que tem pra fazer nesse fim de mundo é beber até topar, no seu caso bebe pra dormir e acorda pra beber

LEOPOLDO – Ei num bagunça não, eu “pastóro” as “úvêia” e cuido muito bem dela, dou a elas o apoio que precisa,comida todo dia,atenção e muita... muita felicidade! elas são as coisas mais importantes pra mim pois elas” num” são” interesseiras” e fazem as coisas sem reclamar, são as únicas que que não ficam por ai me julgando por ser um cabra que gosta de tomar uns “gorós”.

MÃEZONA – É , nota-se, a atenção é tanta pra elas que esquece de dar pra filha Martinha o carinho dos braços e coração paterno, por isso ,tem uma filha falada e mal criada

LEOPOLDO – Lave a boca antes de falar de minha Martinha,ela é uma menina moça (destacadamente) e muito moça!

(De repente entra Sebim)

SEBIM - É... o Tonhão que o diga!

LEOPOLDO – (Põe as mãos no bolso,como se fosse sacar uma arma, e tira uma garrafa de pinga) Como é que é seu cabra?Por um acaso tu ta se referindo a minha menina é?(Aponta a garrafa de cachaça pra Sebim) olhe que posso te dar um tiro com meu “resolve” cabra sem vergonha.

SEBIM – Não é nada disso não Seu Leó.

MÃEZONA – Hum! Que intimidade é essa Leopoldo? como você caiu de moda! onde é que está aquele fazendeiro rico criador de gado de Bodorocó,perdeu a moral mesmo foi?

LEOPOLDO – Hora sua velha!

SEBIM – Calma seu Leó (Impedindo ele de insultar Mãezona) só vim dar um recado do dono do bar; ele disse que você pagasse até a próxima segunda o que deve lá no boteco senão ele vem com a policia prender vossa excelência e num ia ficar nada bonito pro senhor.

LEOPOLDO – Eita que eu devo mesmo “ói”! Mas o dinheiro da minha aposentadoria ainda não chegou...

MÃEZONA - Tem nada não, do jeito que o povinho d’aqui é, e como tu deve ter acabado com o estoque do boteco...ele vai querer pagamento em ovelhas .

LEOPOLDO – Cala a boca sua mocréia!

SEBIM– Ela esta certa seu Leó , parece que sua dívida vai ser paga com as ovelhas mesmo. e se o senhor não tomar cuidado vai perder tudinho , “inté” mais vê...(Leopoldo e Mãezona ficam como estatuas e Sebim fala pra platéia)E agora, o que vai acontecer? O seu Leopoldo está em uma sinuca de bico, a mocréia da Mãezona quer fazer de tudo pro velho convencer a Martinha que seu filho pode ser um par perfeito pra ela. Será que a jararaca vai” chantagear” o bêbado?Eu num sei... mas prefiro cair fora.
(sai de cena)

A chantagem...

(Saem da posição de estatua e Mãezona começa a soltar seu veneno)

MÃEZONA - É, Leopoldo, parece que é sério mesmo a sua situação! Mas nem tudo está perdido, meu filho que é formado em direito pode muito bem falar por você .

LEOPOLDO – Quê ? mas seu filho num foi embora ainda menino pra cidade grande estudar?

MÃEZONA – É esse mesmo, ele voltou e já veio formado, pronto pra atuar nas causas mais complicadas e em prol dos oprimidos.

LEOPOLDO - Mas ele virou “homi”?

MÃEZONA – (Brava) Como assim “virou homem”? Ele sempre foi macho.

LEOPOLDO - Mas num é aquele que só andava com o Tonhão? “Tadim do bixim”, nem puxou o pai, seu finado marido Dr. Capitão, um cabra respeitado, corajoso e valente que só cometeu um grande erro na vida ,que foi casar com você...

MÃEZONA ---- O Quê ? pare de falar assim , você também não é lá grande coisa!(sorri)

LEOPOLDO --- Pois é, foi bem eu que cheguei me chamando de Lêlê... mas, ele num vai cobrar caro pra me ajudar? É como falei : estou lascado sem dinheiro e a minha aposentadoria atrasou , se ele me defender, vai querer receber um babujado , porque seu menino pode ser meio lá e meio cá... mas “num” deve de ser besta de trabalhar de graça, só quem faz isso é relógio.



MÃEZONA - Podemos negociar, Já que você falou que meu filhinho joga no outro time e que você precisa muito d’ele pra se safar das dividas, podemos fazer um jogo na mão de sua filha... É um bom negócio, não é?

LEOPOLDO – (clamando com as mãos pro céu) Mas o que é que eu fiz meu Deus pra merecer isso?Primeiro vem as minhas pobres “uvêinha” , depois o mendigo da cidade me chamando de Leó com a maior intimidade do mundo e agora essa velha gorda esbaforida me “chantageando” com essa história de entregar minha filhinha única e moça pra um rapaz que ta mais pra flor do que pra” homi”, me diga eu preciso saber! (começa a chorar desesperadamente)

MÃEZONA – E ai seu velhote é pegar ou largar.

LEOPOLDO – To fora!

MÃEZONA – Então pode dar adeus pras suas queridas ovelhinhas.

LEOPOLDO – ( Há um clima de silêncio, Leopoldo pensa por alguns segundos e logo aceita o acordo)
Ta bom, ta bom, você venceu (Tristonho) terei que fazer esse sacrifício, afinal faço tudo pelas minhas “uvêinhas” querida.

MÃEZONA - Então vamos marcar o encontro, para que sua menina nem desconfie.

LEOPOLDO – (Ainda sem jeito) Ta bom, ta bom,vamos “simbóra” já sofri de mais por hoje.

(os dois saem...)

[fim do primeiro ato] ...

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