domingo, 30 de agosto de 2009

Aurora Numbora (Ato 2- Cena 6)

LUCILIO --- Ai “mami”, o que será que a tal filha do criador de ovelhas decidiu?

MÃEZONA – O que decidiu não sei, mas quer saber de uma coisinha?

LUCILIO – Sim.

MÃEZONA --- Pára de me chamar de “mami”, isso é viadagem.

LUCILIO --- Ah, deixa de coisa ridícula, isso é uma forma carinhosa de chamá-la.

MÃEZONA --- Prefiro não escutar isso de você outra vez.

LUCILIO -- Deve ser por isso que foi mal amada, não gosta ou nunca encontrou um homem sensível, por isso que tudo parece ser”viadagem”, como diz...

MÃEZONA--- Pára com isso. Seu pai foi um homem de brio, macho e tinha muitas mulheres...

LUCILIO --- E daí? A senhora acha que isso é qualidade? O verdadeiro homem tem que ser sensível, carinhoso , romântico e atencioso.Coisa que meu pai nunca foi para com a senhora.

MÃEZONA--- Ora! onde foi que você aprendeu isso, nos livros?

LUCILIO --- Não.Nenhum livro nos ensina a ser nós mesmos.

MÃEZONA--- E com quem foi que aprendeu essas coisas?

LUCILIO --- Com a vida. Ela foi muito amarga comigo.

MÃEZONA --- Amarga?

LUCILIO --- É, esse tempo em que passei fora de casa me proporcionou muita miséria, fome e ignorância dos homens uns com os outros.

MÃEZONA --- Mas você passou tanta privação assim?

LUCILIO --- (Debochando) Eu mesmo não. Eu via era os outros, o dinheiro que a senhora mandava pra mim era muito pouco, mas dava pra ir pras festas que aconteciam todo fim de semana.

MÃEZONA —Como assim, dinheiro pouco? Aquilo era tudo que nós tínhamos...

LUCILIO --- É, mas era pouco, só deu mesmo pra comprar meu diplom...

MÃEZONA --- O que foi que você disse Lucilio Antôni Filho Cabral de Albuquerque?Quer dizer que esse tempo todo lá fora era só enrolação? Você comprou um diploma? Mas que vergonha!

LUCILIO --- Eu explico mamãe, eu posso explicar...

MÃEZONA—(Irritada) É bom mesmo.

LUCILIO --- Foi o seguinte...

(De repente é interrompido por Sebim )

SEBIM --- Mas que bonito isso num é?fica pousando de intelectual, mas não passa de um charlatão.

MÃEZONA --- Ei, seu verme, você não ouviu nada.

SEBIM – Ah! mas é que ouvi sim. Aposto que esse povoado não iria gostar nada de saber que o tal “adevogado” não passa de um ralézinho falsificado.

LUCILIO --- E agora “mami” estou na mão de um marginal zinho.

SEBIM – Alto lá meu amiguinho fajuto.Eu sou igualzinho a você. Se quer que eu me cale e ninguém fique sabendo do manifesto você tem que me dar um ordenadinho semanalmente, pois preciso comprar uns trapinhos pra minha pele tão sensível.

MÃEZONA--- Isso é uma chantagem?

SEBIM – Muito inteligente a senhora!(Irônico) Te disseram isso ou você descobriu sozinha? Claro que é ! só queria umas trinta pratas,não é lá muita coisa, pois o seu finado marido, o Dr capitão (Olha pro chão) “que satã o tenha!” Deixou uma “aposentadoriazinha” gorda pra senhora.

MÃEZONA— Não fale assim do meu querido marido.

SEBIM --- Falo sim , aquele tampo era “raparigueiro” todo, e se aproveitava que usava farda pra bater na gente e abusar da autoridade,posso ser pobre e analfabeto, mas não “sô” um cachorro de rua... então que o Diabo que o tenha!

MÃEZONA --- Ta bem... vá embora e não se fala mais nisso.

SEBIM --- Não é bem assim que se negocia, madame. Ou libera os “trintinha” , ou seu filhinho fica desmoralizado em todo o povoado.

MÃEZONA —Tudo bem, tudo bem, não quero saber de escândalos, afinal , esse povinho é muito falador, cale sua boca e no fim do mês acertamos o preço de sua chantagem...

SEBIM -- Que nada minha senhora , eu quero é agorinha mesmo, pois “tô” precisando de uma roupinha limpa pra ir ao forró do Dagô...

MÃEZONA -- Vai com ele no banco filho, dá pra ele o valor que ele pediu, depois vamos ter uma bela conversinha em casa...

SEBIM—( Risos,tenta apertar a mão pra Mãezona, mas ela ignora) Foi muito bom negociar com a senhora .

(saem de cena todos)

Nenhum comentário: