Com o samba-enredo “De eterna criança a embaixador da esperança, Renato Aragão, Didi Trapalhão!”, um dos maiores comediantes brasileiros foi homenageado pela X-9 Paulistana no Carnaval de 2011.
Muita gente, infelizmente, conhece Renato Aragão pelo sofrível “Turma do Didi” ou pelos lamentáveis especiais como “Acampamento de Férias” e “Deu a Louca no Tempo”.
Porém, não se deixe enganar. Didi Mocó Sonrizep Colesterol Novalgino Mufumbbo. Com dois bês, importante lembrar. Nascido em Fortaleza (CE), amadurecido no Rio de Janeiro, é um dos maiores personagens cômicos do Brasil.
Ex-oficial do Exército e aluno de Direito da Universidade Federal do Ceará, Renato Aragão sonhava em ser comediante. Tímido, não se achava muito engraçado, mas queria fazer o público rir. A oportunidade surgiu em 1959, com a chegada da televisão em Fortaleza. Após passar em um concurso, começou a trabalhar como produtor, roteirista e diretor na TV Ceará.
Sua primeira tarefa foi criar um programa humorístico para a emissora. Sem experiência anterior na área, quebrou a cabeça para escrever uma história. Decidiu falar sobre a chegada da televisão e de um certo “passageiro Renato” na capital cearense. Não gostou do nome do personagem. Pensou em outro. O segundo que veio à cabeça foi Didi.
Renato Aragão não tinha intenção de interpretá-lo, pois não imaginava sair dos bastidores e ir para frente das câmeras trabalhar como ator. Mas, como nenhum integrante do elenco da emissora topou fazer Didi Mocó, ele criou coragem e encarnou sua criação no programa “Vídeo Alegre”. O personagem foi inspirado nos papéis que Oscarito, um dos comediantes mais populares do Brasil na época, interpretava nas famosas chanchadas cinematográficas.
Sucesso no Ceará, Renato Aragão desembarcou no Rio de Janeiro em 1964. Didi Mocó fez participações no humorístico “A E I O Urca”, da Tupi. No ano seguinte, migrou para a Excelsior, onde era a estrela principal de “Adoráveis Trapalhões”. Contracenava com o cantor Wanderley Cardoso, o ator Renato Corte Real e o lutador Ted Boy Marino.
Em 1971, foi para a Record, onde começou a formar o grupo que o sacramentou na galeria dos grandes personagens cômicos do Brasil. Ao lado de Dedé (Manfried Sant’Anna) e Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes), Didi Mocó estrelava “Os Insociáveis”.
Dois anos depois, os três foram para a Tupi, onde estrearam o programa que teria o mesmo nome com o qual passaram a se apresentar: “Os Trapalhões”. Nesta época, Zacarias (Mauro Faccio Gonçalves) ingressou no grupo.
Em 1977, “Os Trapalhões” estrearam na Globo. Foram anos de sucesso na TV e no cinema. Liderados por Didi Mocó, o quarteto – que antes era admirado apenas pelo público – começou a ganhar respeito da imprensa, principalmente após a boa recepção de “O Cinderelo Trapalhão” no Festival de Berlim, em 1979.
Em 1995, após a morte de Zacarias (1990) e de Mussum (1994), “Os Trapalhões” chegaram ao fim. Didi Mocó retornou para as telinhas três anos depois, com a estréia de “A Turma do Didi”.
Muita gente associa Didi Mocó apenas às crianças. Sem dúvida, o humor patético tem forte apelo junto ao público infantil. No entanto, o personagem carrega uma boa dose de crítica social.
Didi Mocó lembra João Grilo, de “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, e Macunaíma, do livro homônimo de Mário de Andrade. O personagem de Renato Aragão, que muitas vezes parece uma ode à malandragem, na verdade revela uma característica brasileira que, ao mesmo tempo em que garante a sobrevivência de milhões de pessoas, amarra o desenvolvimento social do país.
Dedé Santana, companheiro de Didi, afirma que não é fácil fazer humor nestes tempos de patrulha moral e imposição de arcaicos conceitos politicamente corretos. Segundo ele, quando começaram o humor era ingênuo e havia liberdade para fazer qualquer coisa.
“Hoje, não posso mais chamar um afrodescendente de ‘negão’. Eu seria processado na hora. Nos ‘Trapalhões’, brincávamos muito interpretando bichas. Se fizéssemos isso hoje, todo o grupo seria processado. Ficou mais difícil fazer humor hoje”, declarou recentemente.
Uma pena. A patrulha que insiste em transformar a televisão em algo insípida e estéril, permeada apenas de atitudes moralmente positivas – como se a moral fosse um conceito estanque e monótono – apagou o talento de um grande comediante, que hoje faz piadas tolas aos domingos, receoso de desagradar a audiência.
De qualquer forma, nada apaga o brilho de Renato Aragão. O do jabá, como o chamava o saudoso Mussum, tem valor indiscutível para o humor nacional. Sabe tudo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário