quinta-feira, 5 de julho de 2012

TRÍTONO, O SOM DO DIABO

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Impressionante como o som influencia pensamentos, comportamentos e sociedades em épocas e regiões distintas. O trítono sugere tensão e emoção mas será mesmo o som do Diabo?

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Você pode até não saber o que significa ou nem mesmo dar a menor importância mas com certeza já ouviu e possívelmente sentiu-se arrepiar com a execução de alguma música, ou trecho dela, que contenha o trítono, o "som do Diabo" como ficou conhecido na Idade Média. Trata-se, tecnicamente falando, de um som dissonante (forma da harmonia musical) obtido quando determinadas notas são tocadas simultaneamente, um intervalo musical (diferença de três tons entre as notas que podemos ouvir em exemplos como a quinta diminuta ou quarta aumentada) que pode ser obtido a partir de variadas combinações de notas e que, assim como os sinais na pele para a inquisição, tornou-se alvo de ataque por parte da Igreja Católica na "era das trevas" por ser considerado desarmônico e refletir momentos de "tensão" na música devido à sensação de movimento que causa.

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Interessante como uma combinação de notas pode provocar tal reação nas pessoas chegando ao ponto de ser considerada como algo vindo do demônio. Os efeitos da música nas pessoas vêm sendo estudados há muito tempo por diversas culturas ao redor do mundo e em épocas distintas, cada qual com suas teorias bem ou mal fundamentadas. Conforme a cultura tomada como exemplo observa-se diferentes significados para a música e para os sons, bem como sua gama de energia e influência sobre o ouvinte. A importância e relevância no meio social varia, deveras, mas não deixa de estar presente em praticamente nenhuma sociedade; nas ditas civilizadas principalmente.

O trítono - sem atribuir qualquer conotação subliminar - há de se admitir, traz uma sensação de tensão, um "toque" ou insinuação de maldade. Vejamos o 1º movimento da 5ª sinfonia de Beethoven por exemplo, nota-se que a tensão exacerbada lá está, gritando nos ouvidos de forma constante; até pode ter algo de natural esta relação com o teor malígno mas, com certeza, ela advém da criação neurótica e proposital daqueles que desejaram dominar mentalidades e controlar os limites da criação humana em épocas diversas. Afinal, que lei universal diz que tensão (ainda mais momentânea) é coisa do diabo? Esta tentativa de coibir a criação por vezes foi de responsabilidade da Igreja Católica, neste caso não foi diferente.

A Igreja na era medieval considerou que o intervalo trítono era um sinal de maldade demoníaca e este intervalo passou a ser conhecido como "diabolus in musica", nome em latim que significa “o diabo na música”. Desta forma proibiu, ou tentou proibir, que ele fosse adicionado em músicas compostas e tocadas desde então. Nem carece de maior atenção mais esta barbaridade praticada pela igreja medieval e o que realmente importa é a constatação do efeito que a música causa na mente humana, individual ou coletiva e institucionalmente falando. Eis o cinema para avalizar esta afirmação; as trilhas sonoras nada mais têm como objetivo que o direcionamento sensitivo dos que assistem ao filme. Suspense, humor, ternura, tristeza, sexualidade, etc., todos estes sentimentos são denotados através de efeitos sonoros ou músicas inseridos nos momentos certos, nas sequências adequadas ao que se objetiva transmitir, um arifício que hoje nem mais pode ser considerado como tal, dado seu entrelaçamento com a produção do cinema em si. Hoje, há muito tempo aliás, o cinema não mais vive (já viveu?) sem efeitos e trilhas sonoras que o auxiliem em sua mensagem!

tritono-colagem.jpgEm sentido horário: Beethoven, Robert Johnson e Ronnie James Dio

O trítono, nada tem de absurdo dizer, configurou-se numa nova forma de ver o mundo (!), pelo menos tendo a música como lente. Uma forma que tem seus sinais também observados na música que os escravos dos norte-emericanos tocavam e que deu origem ao Blues no início do século XX, com suas blue notes que entoavam tristeza, emoção e muita malícia. E é desta veia triste, emotivamente maliciosa e dissonante que o Rock e o Heavy Metal também aproveitaram-se para fincar muitas de suas bases. Não é nada difícil encontrar o trítono em canções do Metal, sendo este um elemento praticamente definidor deste estilo em muitas "cartilhas".

Tome-se como exemplo músicas onde o trítono está presente para a inevitável sensação de tensão mencionada anteriormente, o som dele pode influenciar e modificar a percepção de derminadas canções. Da música clássica ao Metal o "diabolus in música" definitivamente enriquece e, sem dúvida, aquece a audição! Fica a sugestão para uma "audição mais demorada"...

A seguir dois perfeitos e clássicos exemplos de músicas onde o trítono se faz presente. A música Black Sabbath da banda homônima (o mais famoso trítono do Heavy Metal) e o 1º movimento da 5ª sinfonia de Beethoven.

sandromarcos
Artigo da autoria de Sandro Marcos.
Viciado em atenção e notívago inveterado, simplesmente não vive sem a multiplicidade de culturas e conteúdos! Multiplicidade esta que expressa através de incursões pelos mundos da música, poesia, literatura e do amor verdadeiro. Email para este blog: encruzilhada.obvious@yahoo.com.br.
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