terça-feira, 11 de setembro de 2012

GCM proíbe distribuição gratuita de livros no Centro de São Paulo


Como essa pagina tem o intuito de divulgar Arte, não posso ignorar a literatura, uma vez que o exercício da leitura nos faz cidadãos mais conscientes e críticos em meio as inúmeras divergências sociais do cotidiano. Esta noticia em especial me chamou muito a atenção, pelo seu elevado teor de estranhamento, sendo assim compartilho com o leitor de O MARICAL.
Por Gustavo Magnani
A notícia é tão polêmica, estranha [e revoltante] que já está causando um grande “bafafá”: 
Uma distribuição de livros gratuita que aconteceria na manhã desta segunda-feira (10), na frente da Prefeitura de São Paulo, no Centro, foi abortada pela Guarda Civil Metropolitana na noite deste domingo (9), segundo a ONG Educa Brasil. De acordo com Devanir Amâncio, presidente do grupo, os organizadores do evento tinham acabado de descarregar a primeira caixa com os livros no Viaduto do Chá quando guardas os abordaram e afirmaram que a distribuição não poderia acontecer.
“Os guardas falaram que a ordem era de não distribuir os livros, e que eles seriam recolhidos como entulho caso insistíssemos. As pessoas que estavam descarregando ficaram com medo de continuar e saíram rápido do local”, disse Amâncio.
Segundo ele, os guardas chegaram a perguntar se o grupo tinha autorização para distribuir os livros. “Eu falei que não, pois aquilo não ia atrapalhar ninguém. Nós nem colocamos faixa, só tinha uma lona para os livros, uma lousa e duas cadeiras para pessoas mais idosas se sentarem”, comentou.
Ainda de acordo com ele, livros foram oferecidos para os guardas. “Um deles estendeu a mão para pegar, mas o outro falou que eles seriam punidos”. A Guarda Civil Metropolitana foi procurada pela reportagem do G1 para se posicionar sobre o caso, mas não havia respondido até as 12h desta segunda-feira.
Ainda segundo Amâncio, cerca de 8 mil livros seriam dispostos em lonas e distribuídos a partir das 10h desta segunda como uma forma de protesto ao descaso com as bibliotecas públicas da capital paulista. A “Bienal Relâmpago”, como foi chamada, será transformada em uma “Bienal Móvel” – duas kombis percorrerão locais movimentados do Centro de São Paulo oferecendo os livros aos pedestres. De acordo com Amâncio, a nova distribuição deve acontecer na manhã de sábado (15). [RETIRADO G1].
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Vocês preferem que eu comece por onde? Pelo óbvio? Tudo bem: tirar drogas da rua ninguém quer, agora, livros [...] É tão absurdo acreditar que a notícia veiculada é verdadeira que começamos a nos questionar onde está a racionalidade que supostamente difere os homens dos animais:
“vocês tem licença pra distribuir livros?”
“Livro? Isso aqui é pacotinho de Crack, sinhô”.
“opa. Desculpe o incômodo. Pode voltar ao serviço, amigo.”
É um tanto difícil falar sobre o assunto, pois, qualquer coisa dita soa como extremismo descabido. Mas, não é a questão. Por exemplo, tentei medir quais seriam os motivos de terem mandado os guardas [sim, porque eles não são os culpados por isso]. Perturbação pública? Duvido. Que mal pode causar a doação de livros para, assim, ocorrer o incentivo da leitura?
Opa… opa… que mal é esse? Já se tornou quase que uma opinião geral [e isso é algo ótimo, diferente de outras opiniões gerais] que os políticos desvalorizam a educação para continuarem no poder. Pois [e aqui retomo aquilo que disse na postagem sobre a proibição de Dalton Trevisan] a leitura possui uma capacidade influenciadora gigantesca. No entanto, me parece um tanto conspiracionista acreditar que um político da cidade iria exigir tal intervenção. Então, tentemos buscar outro motivo.
Ocupação de área pública? Mas, seriam apenas algumas lonas, cadeiras, ninguém iria ligar em desviar pro lado. Além de que, ao longo de todas as cidades, existem ocupações indevidas do espaço público. Por exemplo, numa escala menor: quantas casas jogam entulho na rua, impossibilitando tanto o tráfego pela calçada quanto pela metade da pista. Numa escala maior: quantas outras áreas públicas são ocupadas por traficantes/bandidos, impossibilitando o uso ou a passagem pela mesma? Portanto, ocupação de área indevida me parece insensato.
Agora, sinceramente, não consigo pensar em mais nada. Sobram, então, duas opções: a “conspiracionista” e a “foda-se essa merda, vamos encher o saco com coisas inúteis” [ultimamente, começo a achar que essa última opção motiva muitas coisas no Brasil].
Em defesa da “conspiracionista”, digo que só uso esse termo porque me parece um tanto ingênuo acreditar que essa “proibição” iria desanimar a ONG ou outros incentivadores da leitura. Por isso, à primeira vista, pode soar um tanto estranho que o prefeito, ou alguém do alto escalão, tenha decretado: “Não. Não vão distribuir livros”. E aí existem dois caminhos: “sim, realmente é estranho, mas, o que não é estranho num meio que aumenta mais de 60% o próprio salário em um único ano?”, ou “inibem as pequenas coisas para que as grandes não aconteçam”. Essa última pode parecer ainda mais absurda, no entanto, faz completo sentido e, sim, pode ser o motivo de toda essa proibição absurda.
Agora, sobre o “foda-se essa merda, vamos encher o saco com coisas inúteis”, essa é a resposta mais ao acaso [e, talvez, mais aceitável possível] e, infelizmente, tem muita cara do sistema brasileiro. Seja lá qual for o motivo, consegui conter, ao longo do texto, a certa raiva que paira sobre todos ao ler a notícia. Como semana passada já destilei um pouco de ódio literário na postagem sobre o Vampiro de Curitiba, me arredei aqui, tentando equilibrar as ideias sem diminuir a crítica. Óbvio, o texto acaba sendo menos incisivo, mas, não menos eficaz. [em segredo, acho que já bastaria um texto que se limitasse a xingar a ação dos guardas, mas isso é um segredo].
Quanto aos realizadores do projeto, deixo meus gigantescos parabéns. OITO MIL LIVROS distribuídos gratuitamente é de se orgulhar. Tenho certeza que muitas pessoas irão adquirir o hábito pela leitura por causa dessa ação.
Ao sistema brasileiro, meus sinceros pêsames, pois sua dignidade já morreu há muito tempo. Triste é perceber uma população evoluindo [e que tenta evoluir seus companheiros] ser barrada por um autoritarismo frouxo, arrogante e sem nenhum sentido.

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