domingo, 2 de setembro de 2012

Grifos meus 1# (minha formação numa perspectiva familiar)

No referente texto, procuro relatar a importância da instituição Familia para minha formação na área teatral:


Por: Fábio Fernandes

O alcance da qualidade acadêmica na formação docente em Teatro vem sendo um ponto de reflexão de grande importância na minha experiência na relação arte-escola. Por meio de uma vivencia completamente diversificada ao longo de meu percurso vital, busco evidenciar essa trajetória de vida e suas consequentes  experiências no referido texto.

Nesse espaço virtual, vejo a oportunidade de poder-me autoavaliar enquanto corpo ativo em meio aos processos artísticos, em especial o teatro como campo de investigação, uma vez que minha graduação corresponde as perspectivas teatrais como fonte de conhecimento. Em diversas etapas da vida, a informação pertinente ao que seria teatral se mostra diversificada, dependendo de cada perspectiva na qual a informação me é fornecida.

No meio familiar, posso detectar as primeiras manifestações teatrais que me foram apresentadas, primeiro  1) através da observação constante dos membros de minha família. Nesse processo, detecto as primeiras influencias que moldam as características corporais do sujeito, são estas a) forma de falar (comunicação oral) b)movimentação corporal (níveis de energia)  C) cognição (percepções figurativas)  D) e por fim o lugar da criação a partir da imaginação.

Ao observar os membros de minha família, torna-se claro as diferenças que cada sujeito apresenta, uma vez que a divergência de informações de cada indivíduo é fundamental no processo de construção de mim enquanto sujeito. Levanto aqui a ideia de que somos seres influenciáveis pelo meio em que vivemos, e o primeiro espaço para esta troca de experiência é no eixo familiar.

Ao observar meu pai falando, noto uma similaridade. Do mesmo modo se faz com os outros membros da família. Ao tornar a imagem do meu pai num eixo paradigmático no qual este se torna a figura de um líder que está no controle da família, o que chamo de o “cabeça” do grupo... Atribuo, portanto, um valor hierárquico a figura paterna, este que se encontra no topo da pirâmide de valores, este sempre ficou no ápice, consecutivamente surge, a figura materna e logo após os irmãos por ordem de nascimento.

Seguindo essas informações naturais e culturais próprias daquela realidade, ao notar as similaridades individuais, percebo que sou parecido com meu pai, este que sempre vive a representar, mesmo sem intenção de mostrar que é um fenômeno artístico. Também pela proximidade com a figura paterna vou adquirindo os mesmos trejeitos do que se configura como “superior” no eixo paradigmático na instituição família, por esse motivo passo a adquirir seus gestos cotidianos. Chegará um momento em que vou ter essas matrizes no meu processo pedagógico.

Ligando esta convivência de família ao contexto teatral, percebo que a construção de um personagem está agregada a muitos valores do cotidiano, e que temos a pesquisa em laboratório no intuito de moldar a personagem ao que mais se torna característico da persona, até que este se torne físico (visível).

Os aspectos teatrais que surgem, portanto neste contexto é a livre expressão de personalidade pela qual se cofigura a mim, no aspecto ligado ao imaginário, vejo que tais influencias surgem das contações de historias mostradas pela minha mãe antes de dormir, por exemplo. Nesse aspecto passo a agregar outros valores em minha construção individual.

Com relação ao conhecimento de aprendizagem, assumo como ponto importante e crucial o fato de meu pai ter me ensinado a ler e a escrever, mesmo tendo estudado até o 5º ano do ensino fundamental. O método pedagógico de ele me instruir começa com os textos que este me sugeria ler, neste ponto, detecto que nas histórias existiam fatos em que não condiziam com a “realidade”, por exemplo, numa história em que um animal falava, no meu cotidiano não consigo entender esse fato como real, porem acredito que o animal fala o mesmo idioma que eu na história. Esta, portanto, é uma ação teatral. Esta informação me faz aflorar para a possibilidade de um animal falar, desta forma passo  a querer me comunicar com estes seres, mesmo sabendo que eles não se comunicarão comigo no mesmo fluxo. Isto é absolutamente teatral.

O que se faz possível em meu processo criativo na arte através do contexto familiar, também é corporal, pelo fato de eu poder correr, pular, andar, falar, ver TV e reproduzir os gestos que os personagens dos desenhos animados faziam, as brincadeiras também contribuem para esse corpo que aos poucos ia ganhando forma própria. Construía-se então o sujeito que mais tarde seria um pesquisador da arte teatral.

Circo
Outro ponto de grande importância no meu processo formativo como sujeito inserido na arte, foi o fato de ter contato direto com o mundo circense, essa aproximação que era pratica frequente tornou ponto crucial na construção de minha personalidade, tanto que a prática do circo se fazia presente em nossa família. Refiro-me as nossas “brincadeiras” cotidianas que consistiam em fazer uma mimese do mundo circense, para todos os membros de minha família era destinada uma ação e um personagem, assim como no circo que frequentávamos. As personagens se dividiam em quadros específicos, ou seja, éramos palhaços, malabaristas, trapezistas, apresentadores, enfim, fazíamos uma espécie de cópia circense de todas essas figuras do circo, por conseguinte representávamos e/ou reproduzíamos as ações afins.

Detendo-se individualmente a mim, pude ficar com a mimese do palhaço, creio que este foi o primeiro personagem que interpretei. Ao me transformar em um palhaço, me detive a observar o que as figuras (matrizes) apresentavam em relação as ações corporais, a fala, aos textos prontos pelos quais reproduzíamos em nosso picadeiro. A dramaturgia de nosso espetáculo era voltada a cópia do circo, não exigia uma qualidade rebuscada, uma vez que a principio esta experiência estava mais para o eixo lúdico.

Enfim, em meio a estes acontecimentos, passo a analisar o contexto de uma infância repleta de experiências artísticas, sem dúvida essas brincadeiras influenciaram bastante o que havia de teatral em meu processo criativo permanente. Não estávamos preocupados em saber o porquê reproduzíamos o fenômeno artístico do circo nem ao menos em tentar entender o fato determinada linguagem existir, nos preocupávamos apenas em brincar, buscar uma diversão e ocupar nossas horas de folga.

Chamo este fenômeno de ação primitiva, uma vez que fazemos por instinto, no simples fato de  sentir prazer, talvez pra tentarmos nos ver  livres de obrigações cotidianas que nos causam peso na consciência de obrigações reais para com a   instituição família. Esta, portanto, foi a visão teatral que se mostrou a priori em minha vivencia enquanto sujeito em processo de aprendizado vital, desta forma fui me construindo em relação ao fazer teatral, mesmo desconhecendo que território seria este que inevitavelmente viria a transitar nos primeiros passos de minha vida artística.

...


No próximo artigo, investigarei os áspectos teatrais no contexto escolar.
Até.

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