Arte de pôr em cena, transformar em espectáculo um texto escrito; o efeito dessa arte. A origem do termo surge como elemento constituinte e inseparável do teatro sendo através dele que se verifica a evolução técnica e estética desse mesmo teatro. Tendo em conta a tradição europeia, as primeiras encenações de carácter teatral tiveram lugar no séc. VI a. C. na Grécia, para o qual foi utilizado um cenário portátil, mais conhecido por carroça de Tépis. O seu emprego devia ser idêntico ao da skene (cenografia) dos futuros teatros construídos não só na Grécia como também em Roma. Na Idade Média, a encenação surgiu nas demonstrações de certas passagens litúrgicas representadas por sacerdotes, durante as cerimonias religiosas. E aqui o teatro cristão, tal como no teatro clássico, nasce da ritologia. Com relação à Idade Moderna, a encenação manteve as características medievais em toda a Europa, com excepção da Itália onde o teatro era já uma arte de humanistas com um público culturalmente aberto e sensível. Ainda nos sécs. XV e XVI, países como Inglaterra, Espanha, França e Alemanha, mostravam um teatro medieval encarado, unicamente, como diversão popular. Na Itália, pelo contrário, surge a perspectiva pictórica (séc. XV) sendo adoptada pelo teatro para a cenografia.
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Em 1913, e desta feita ainda antes da guerra, surge um movimento renovador com maior relevo quando Jacques Copeau fundou em Paris o Théâtre du Vieux- colombier, concedendo a depuração e simplificação do espetáculo cénico através da valorização do texto, da pureza da encenação e do equilíbrio dos diversos elementos. Por seu lado também a Rússia Soviética, logo após a Revolução de 1917, se interessou pela experiência teatral através de Vsevolod Meyerhold (1938-1940) que tentou a construção de espetáculos ideológicos, baseados nas suas concepções de biomecânica, despersonalização do actor e neutralidade do texto.
A partir das décadas de 80 e 90, a cena europeia desenvolverá experiências com base em programas bem estruturados de renovação dos métodos do espectáculo. Desde 1950 que variadíssimas pequenas performancesexperimentais contrastam e coexistem com a modernização da ópera e a internacionalização dos grandes espectáculos musicais, por um lado, e a criação de espetáculos musicados por outro. Ambos os casos são fruto de grandes vagas renovadoras que há cinquenta anos Brecht, Beckett e Ionesco provocaram quer ao nível do texto quer ao nível do espetáculo.
A encenação consiste numa apresentação, numa leitura possível entre outras, num ponto de vista particular, neste caso do encenador, não negando mas participando da multiplicidade do sentido. É uma arte complexa e difícil porque trabalha com os homens e as coisas (colectiva ou isoladamente), evocando tanto o aspecto ou os caracteres físicos dos seus variados elementos, como o seu papel moral, o seu toque pessoal e especial no conjunto definido e harmonioso da ação. Nesta perspectiva, esta arte deve prolongar-se até às relações mútuas e recíprocas dos homens e das coisas nos variadíssimos domínios arqueológico, histórico, geográfico e episódico. Por outro lado, ao transformar em espetáculo um texto escrito, a encenação transpõe todo um mundo de imagens conceptuais para recrear forma, movimento, som e cor. Nas palavras de António Pedro, a encenação vai «valorizar o verbo e corporizá-lo na carne das personagens e compor o seu agir» (Pequeno Tratado de Encenação, Confluência, Porto, 1962, p. 16).De um ponto de vista mais técnico, a encenação conta com determinados elementos que têm o objectivo de dar forma no espaço e em movimento e tempos reais à fábula - a composição da ação, parte do drama considerada mais importante por Aristóteles. Um desses elementos é a determinação concreta do lugar dramático, papel este destinado ao cenário (adereços, mobiliário e os próprios atores, segundo alguns teóricos, pelo espaço que ocupam em cena) que será montado num palco do qual dependerá, pela sua forma, medida e maquinaria, toda a concepção e execução do jogo cênico: o estilo possível de representação, o processo de implantação do cenário e utilização de planos praticáveis, movimentação em cena e seu aproveitamento estético e psicológico, a valorização e desvalorização das cenas, o tempo dos movimentos, as marcações, etc.
Atualmente, os principais tipos de palco existentes nos nossos teatros são o palco à «italiana», de proscênio prolongado (ou à «inglesa»), de anfiteatro, de teatro de arena e ainda , o simples tablado descoberto (do francês «tréteaux»), destinado, sobretudo, a espectáculos ao ar livre.
A declamação das palavras do poema vai completar a interpretação das personagens e da própria peça, para além de ser um elemento que conflui para a composição da ação.
Bibliografia
António Pedro: Pequeno Tratado de Encenação (1962); António Solmer:Manual de Teatro (1999); Jean-Marie Piemme: L'Invention de la Mise en Scéne- DixTextes sur la Représentation Théâtrale (1989); Joaquim de Oliveira: O Teatro Novo- o «Knock» e o seu Encenador (1925-1950); Léon Moussinac: História do Teatro - das Origens aos Nossos Dias (1957); Manfred Wekwerth: A Encenação no Teatro deAmadores (1976); Redondo Junior: A Encenação e a Maioridade do Teatro (1959); René Passeron (dir.): La Présentation (1985)
Imagens:
Arquivo O MARICAL
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