Análise sobre a obra “A mascara do bode” realizada por Makarios Maia durante o Bodearte 2012. Precisamente numa sexta feira 25-05-12. Esta crônica dissertativa foi elaborada como extrato acadêmico da disciplina Apreciação Crítica do Espetáculo coordenada pela Prof. Dra Naira Ciotti, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Ao descrever o cenário da ação cênica performática, busco ambientar o leitor do artigo numa perspectiva imagética que resulte numa leitura visual que percorra um caminho alem da mera imaginação do leitor.
Encontra-se a disposição do performer para a realização da ação cênica, uma mesa; sobre esta se dispõe uma folha de alumínio “cortante”, duas caixas de ferramentas (furadeira, arrebitadeira, martelo, lixa e afins) e por fim uma câmera destinada ao registro da ação. Todos esses fatores (objetos+matéria prima) contribuem para a transformação da matéria à natureza do metal cortante ainda de forma bruta numa perspectiva de percorrer um caminho que visa simbolicamente à construção do ser dramático.
Durante o trabalho meticuloso do artista, este se preocupa em contar o processo dramático à câmera (o que gera certa confissão direta e atribui “vida” a este objeto, a câmera em seu pedestal configura-se na imagem de um psicanalista, seja pela sua frieza em ouvir somente, ou pela passividade de calar e refletir o processo; a necessidade de se afirmar os detalhes da ação eximia e lenta da construção do objeto metafísico constituirá, portanto o “objeto” dramático), em minha cabeça de expectador desde a constituição até seu resultado final.
Desfia-se a matéria. As ferramentas são cuidadosamente apresentadas à folha de metal, esta será trabalhada numa conexão do ser que constrói com aquele que se deixa construir (mexer, alterar, esboçar, desfigurar), o laço igual ao molde do homem no barro, semelhante ao mito de deus e sua criatura. O performer observa a lamina, estabelece a relação e de maneira esporádica começa então o processo de transformação da matéria. As ferramentas mostram ao metal ainda bruto seu poder na construção do drama, uma vez que a própria ação dessas ferramentas sobre o metal já se constitui um fenômeno dramático, ou seja; uma espécie de “jogo de poder” (hierarquia), o metal por sua vez dialoga com o espectador, que dialoga com a cena que junto desta gera a essência da ação, ou seja, desencadeia uma rede de ações.
O corte da tesoura revela o poder de uma ferramenta pequena sobre uma matéria maior porem frágil de se moldar, o metal por sua vez permite ser cortado, desfigurado, mas também exprime um perigo para quem cria a obra e o manuseia, perigo este denunciado quando o metal revela laminas letais ao processo e extremamente cortante. Esta, portanto é uma brecha que o performer encontra para falar diretamente à câmera (que registra a cena) que o drama corta a alma, transita no eixo concreto e abstrato do ser vivente.
Em meio ao processo, o metal que era um produto bruto e abstrato, perpassa do eixo da matéria por excelência a apresentar o significado na forma de um bode, o animal que prediz o drama, cria-se, portanto, a relação da matéria com o próprio ser que a mascara do bode sugere.
A leitura que esta performance possibilita, pode ser a de gerar uma reflexão sobre o drama contido no percurso da vida, nos medos, nas intrigas, nos fatores físicos, psíquicos, geográficos, amorosos, odiosos, no tédio, nas (dês) vantagens e (dês) graças nos quais determinados fatores sensoriais nos constituem enquanto corpos existentes na “estratosfera”.
Desta forma, a construção do dramático está em nós, quando estamos como o metal bruto, em meio à vida (cena) para sermos moldados, o performer são os fatores (meio) que seguem a lógica de nossas ações, as ferramentas são simbolizadas como a mão de obra na qual se torna possível à execução do processo (o que) a câmera que registra supõe a testemunha da vida (memória) na qual arquiva as ações executadas e por fim o bode (produto final) sugere a vida, muitas vezes transviada, mas que construída, seja em meio as transfigurações cotidianas ou a excelência na concretude da vida enquanto existência meramente conceitual. Ou seja : nas possíveis divagações artísticas.
2 comentários:
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